Sentado no velho banquinho de madeira, sob a varanda, com o pé de sete-copas à frente, vejo a vida passando, como num filme, ora de humor ácido, tragédia ou romance. Alguns de boa qualidade, outros nem tanto. Fato é que a vida passa a minha frente, lentamente, placidamente, feito uma velha a bordar os retalhos de sua vida.
Deste canto silencioso, vejo as velhas fotografias de minha vida: o carrinho cheio de bois de plástico correndo pelo quintal, cortando estradas de lama, entrecortadas entre os matagais e as poças d'água acumuladas da chuva; as barragens feitas na rua, segurando a água vinda da rua de cima, para depois ser solta de uma só vez, alagando toda a rua de baixo; a feitiçaria de criança para que um velho carro sumisse... E o carro sumindo...
As lembranças veem acolhedoras, passam à minha frente, chegam à esquina, retornam e sentam-se ao meu lado. Pego o copo de café e beberico junto às lembranças, degustando-as uma a uma, até que minha alma esteja cheia, repleta de todas elas. Servido, sinto-me feliz e, de súbito, uma tristeza intensa toma conta do meu peito. Uma lágrima se forma e desce dos meus olhos, escorrem-me pela barba branca. Sinto um estremecimento estranho.
Tento me levantar, mas as nostálgicas lembranças me prendem ao velho banco. A árvore vibra, como se dançasse uma canção antiga. Uma música íntimia chega-me aos ouvidos. Tento segurar uma outra ágrima que me tenta descer pela face. Fecho os olhos, numa tentativa frustrada de fuga. Abro-o lentamente buscando o horizonte e vejo, ao longe, ela vindo, toda de preto, de preto, de preto...
Até quando? Acabo plasmado nas palavras, no lugarzinho de sempre "sentado no velho banquinho de madeira". O lúgubre elegíaco salta aos olhos como uma lágrima decomposta e traz à memória outrora a vida.
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