sábado, 24 de abril de 2010

CARVOEIRA

“Eu já não cria que existisse mais”



Muito era tarde demais.
Na cacimba, uma gia filtrava a água ;
Antônio cortava lenha nos eucaliptos
no meio de onças , cobras, cabras e
passarinhos e outros tantos bichos;
um litro de pinga tilintava geladinho
na anca fria de um triste cupim.
Quanto dó eu tinha de Maria,
na beirada do fogão
até o cair da noite
molhando a barriga negra na bacia
até que a tarde caísse
se dando no jirau duro e barulhento
até que raiasse o dia
Sonhando um horizonte todo azul
a cada serviço que fazia.
Já disse que muito era tarde demais...
na cacimba gota d'água não mais tinha;
o fogo a lenha queimou;
Antônio, a onça comeu ;
os bichos, a seca matou ;
Maria (quanto dó eu sentia),
de tristeza, prá vida morreu.



Montes Claros 25/05/2004

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