segunda-feira, 26 de abril de 2010

UMA QUESTÃO LINGUÍSTICA

- Garçom. Uma língua, por favor!
Seria fabuloso estupendo
Se a cada dia
De acordo com meu humor poeta
Me pudesse dispor de uma língua:

Hoje o inglês
Amanhã o italiano
Depois o francês.
Um dia, quem sabe,
Sairia por aí cantando
Umas modinhas em javanês.

- Garçom. Uma língua, por favor!
Mas eu quereria que fosse quente
Apimentada por gestos e sentires.
Uma língua em cujas saliências
Eu fosse capaz de sentir e velejar.

Hoje o Tupi
Amanhã o português
Depois um dialeto.
Um dia quem sabe
Sairia por aí falando
Recitando estes versos pra vocês.

Coração de Jesus

domingo, 25 de abril de 2010

ANTÍPODAS





A régua tenta alinhar
A vida.
O destino, porém,
Teima em deixar tudo
Exatamente como está.


Coração de Jesus 25/03/2009

sábado, 24 de abril de 2010

CARVOEIRA

“Eu já não cria que existisse mais”



Muito era tarde demais.
Na cacimba, uma gia filtrava a água ;
Antônio cortava lenha nos eucaliptos
no meio de onças , cobras, cabras e
passarinhos e outros tantos bichos;
um litro de pinga tilintava geladinho
na anca fria de um triste cupim.
Quanto dó eu tinha de Maria,
na beirada do fogão
até o cair da noite
molhando a barriga negra na bacia
até que a tarde caísse
se dando no jirau duro e barulhento
até que raiasse o dia
Sonhando um horizonte todo azul
a cada serviço que fazia.
Já disse que muito era tarde demais...
na cacimba gota d'água não mais tinha;
o fogo a lenha queimou;
Antônio, a onça comeu ;
os bichos, a seca matou ;
Maria (quanto dó eu sentia),
de tristeza, prá vida morreu.



Montes Claros 25/05/2004

quinta-feira, 22 de abril de 2010

NO DIA DA MINHA MORTE

Não haverá tiros
Nem fogos
Nem danças
Nem homens
Nem mulheres,

Apenas o silêncio.

Luís Pires de Minas 22/04/2010

LABIRINTO

Tudo numa régua
Alinhado
Alinhavado
E a poesia transcrita
No labirinto da razão.

O CASO DOS POMBOS

O CASO DOS POMBOS

ELISMAR SANTOS

Em tempos de globalização, internet, televisão e alto índice de pedofilia, eis que o Fernando me vem com histórias de pombo. É incrível, mas parece que ele tem mesmo sangue doce para estas histórias de antigamente.
Era a hora do recreio e enquanto descansávamos, obviamente, falávamos sobre o assunto de que nenhum professor gosta, mas todos falam na hora do descanso: alunos.
Dentro da sala dos professores fazia um ar pesado, tenso, com um quase insuportável cheiro de giz. Mas o Fernando veio para nos salvar a manhã e, felizmente, esta crônica:
Um dos seus alunos, durante uma de suas aulas de Inglês, pediu-lhe, quase chorando, que ordenasse ao outro para lhe devolver um caderno que havia pegado de sua carteira. Firmemente, o professor ordenou que o meliante, digo, o aluno, devolvesse o caderno do colega; quando foi prontamente negado:
- Não devolvo!
O professor, assustado com a recusa, sentiu-se na obrigação de mostrar firmeza:
- Devolve, moço! Senão lhe dou uma advertência! – Mas o resoluto menino insistia em seu propósito:
- Não devolvo, não. Só devolvo quando ele soltar meus pombos!
- Pombos!?!
- É. Ele pegou meus pombos! E eu só devolvo o caderno quando ele soltar os pombos.
Já no final do recreio, na hora de voltar pra sala de aula, confesso que não conseguia olhar para a cara do professor sem dar-lhe umas boas gargalhadas. E, ainda, para tirar sarro, perguntei:
- E aí, os pombos eram pretos ou acinzentados?!

Coração de Jesus, 21/ 04/ 2010.

domingo, 18 de abril de 2010

A MENINA E O TEMPO

A MENINA E O TEMPO

ELISMAR SANTOS

Ela era uma menina bonita, apenas isso. Não tinha nenhuma qualidade especial; não sabia fazer nada que chamasse a atenção; enfim, era uma pessoa comum. Mas tinha alguma coisa que atraía.
Não sei bem o que era, mas tinha. Sempre que ela passava pela rua, olhávamos indiscretamente, observávamos o seu caminhar, o seu rebolado, os cabelos dançando no espaço vazio como se fosse uma bailarina no meio de um espetáculo.
Não havia espetáculo. Era somente ela que passava, com seu corpinho magro, suas pernas secas e seus seios pequenos. Talvez fosse isso que chamasse a nossa atenção: a sua falta de atrativos. Era apenas uma menina bonita, mas era uma menina, e isso nos bastava.
Nunca tivemos coragem de nos aproximar. Olhávamos apenas, sentados às mesas ou nas calçadas dos botecos, enquanto ela passava sem dar-nos a mínima. Não, ela não era burguesinha, não era prosa, nem cheia de meneios, era apenas uma menina; uma menina com o quê de menina que todas elas têm.
Um dia fui embora. Viajei por vários lugares; sentei em várias mesas e calçadas de botecos, talvez à procura daquela menina, mas nunca a encontrei. Voltei, depois de muito tempo, talvez na espera de reencontrá-la. Lembrava-me sempre daquela menina sem atrativo que passava de frente aqueles homens bêbados com seu quê de menina e seus cabelos bailarinos.
A cidade estava como antes, a não ser pela profunda tristeza que pairava no ar. Fiquei por vários dias ali, sentado de frente o boteco, talvez a sua espera. Ela não passou. Com o coração abatido, perguntei ao dono do boteco por ela. No que ele me disse, contrito, que ela havia morrido. O que havia agora era uma mulher. Não uma mulher feia, mas desgastada pelo tempo, sem a juventude que embeleza a todos nós.
Tristemente, tomei meu último gole. Preparava-me para sair quando de frente ao boteco uma senhora passava arrastando dois moleques, um em cada mão segurado. Não tinha a beleza de antes, mas os cabelos dançavam como se fosse uma bailarina em meio a um eterno espetáculo.




Um abraço do poeta!


Coração de Jesus, 04/ 04/ 2010.

BOM DIA PARA NASCER

As palavras que titulam esta postagem é Otto Lara Resende. Mas, convenhamos, Domingo é, de fato, um bom dia para nascer. Este dia conota tranquilidade, paz e, principalmente, reflexão. Eis, então, o que, espero, você há de encontrar aqui: reflexões.
Utilize este espaço para pensar. Pensar a vida, a morte, a alegria, a dor. Enfim, pense; pois apenas assim existimos de fato. Para ajudá-lo nesta árdua tarefa - refletir - aqui hei de colocar: poesias, crônicas, contos e, como não poderia deixar de ser, um pouco de mim.
Um grande abraço do poeta!