sexta-feira, 11 de novembro de 2016

RECORTES CULTURAIS E FOLHAS AO VENTO

1. Aos nove anos de idade escrevi meu primeiro livro. "Minha Pátria" era um livreto feito por cada aluno, com a finalidade de valorizar a nossa nação. E digo isto por questões óbvias, pois, não me lembro das explicações da D. Sérgia sobre a confecção do trabalho; embora me lembre perfeitamente da sua feitura.  Talvez tenha sido este o meu primeiro contato com a Cultura.

2. Aos treze anos, fui selecionado por D. Ivonete para participar de  uma apresentação sobre o Mosquito da Dengue, sendo eu o doutor na dita encenação. Não tenho certeza de que seja esse o meu segundo contato com a Cultura, mas, é fato, o momento eternizou-se em minha mente.

3. Em finais dos anos 90 e início dos anos 2000, participei do grupo de Teatro Vivaranda. Viajamos por toda a região, chegando à Taiobeiras, com as peças "Alô, Doutor!" e "O Sofrimento de Sofia". Era, de fato, uma aventura fascinante; sobretudo, para um jovem com seus quinze anos de idade.

4. Nessa mesma época, tive dois poemas selecionados pela professora Maroni, num concurso estudantil. Um estava em meu nome, enquanto o outro emprestei a uma colega. Aquele foi lido no Terceiro Ano - eu ainda estava no primeiro - como sendo obra de um grande poeta.

5. Em 2003, publiquei meu primeiro livro de poesias: Mutação. Acontecendo o seu lançamento, em 2004, no 18º Salão Nacional de Poesia - Psiu Poético. Depois viriam mais três publicações: Sanharó (Romance) e A Pá Lavra (Poesias), além de um projeto poético, dentro do In-sacando Poesias, o "Alimentando a Alma".


Durante quase 25 anos da minha vida tenho convivido com a Cultura. sempre a vendo ser desvalorizada, deixada em segundo ou terceiro planos. Agora, quase adentrando mais um mandato político, com novos prefeitos e vereadores, resta a esperança de que a Cultura seja alçada ao ponto que merece.

Em um comentário numa rede social, sobre a necessidade de uma desapropriação em uma antiga construção, que poderia servir de ponto de apoio à Cultura, uma pessoa disse que "Tem muito mais coisa para o prefeito fazer do que ficar preocupando com casa velha". Por isso, somos uma nação de terceiro mundo.

Existem, sim, várias ações a serem tomadas em muitas áreas; mas, convenhamos, a Educação e a Cultura são a base para a nossa construção social. Dessa forma, de nada adianta construirmos novos e grandes prédios, termos bons empregos e ganharmos muito dinheiro, se não tivermos o conhecimento e, sobretudo, o respeito pelo nosso passado.

Que as palavras dessa pessoa sejam apenas folhas jogadas ao vento e que os futuros prefeitos, sejam de quaisquer cidades, tenham em mente que não existem prédios velhos. O que há são construções antigas, que merecem todo o nosso respeito, pois, guardam no seu âmago a história de  um povo. Da mesma forma, devemos respeitar os mais velhos, fonte viva de conhecimento, assim como precisamos construir o nosso futuro, com sonhos, trabalho e muita poesia. E tenho dito!

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

APENAS UMA QUESTÃO DE TEMPO

A poeira da estrada vai subindo rapidamente, fazendo coçar os olhos e secar a boca. Ao longe, a enorme antena de celular está coberta por nuvens escuras, que talvez nem cheguem ao seu encontro. Fecha rapidamente a janela, para que o carro que vem em sentido contrário não encha o interior de terra. Os buracos não permitem tanta correria, ainda assim, aquele veículo parece nem tocar o chão. Pequeninas pedras batem no vidro e as costelas fazem todo o carro tremer.

Liga o som e uma mulher começa a cantar uma música triste. Através do insulfilme,observa a paisagem ao seu redor. O carro vai devagar por causa das costelas, dos buracos, da poeira que ainda não baixou. Faz uma semana desde a última chuvarada, um temporal de quase uma hora. o mato rente à estrada já está sujo de terra novamente, mas, ao longe é possível vislumbrar o verdejar da natureza. Tenta se alegrar com aquela cena, mas lembra-se de que tudo aquilo é pura artificialidade.

Só agora observa: tudo aquilo é eucalipto, o ouro verde do sertão. Todos os dias passando pela mesma estrada e só agora vislumbra a tragédia: uma parte da estrada está tomada pelo eucalipto, enquanto a outra já vem se transformando num enorme e impiedoso deserto. A mulher continua cantando no rádio, todas as suas músicas são tristes, ilustrando a cena que vê do seu carro. Parece que está chovendo na antena. Lá não existem eucaliptos. Ainda não existem.

Um dia, conversando com um amigo, alertara-o sobre o perigo da desertificação por causa do desmatamento da mata nativa e a, conseguinte, plantação do ouro verde. Friamente, dissera-lhe o interlocutor que "se nós não desmatamos e plantamos, outros o farão; ganhando o dinheiro que seria nosso". Certamente. Se um não faz outro fará; e esse é o problema da nossa sociedade. 

A chuva começa a bater no para-brisas do carro. Olha para os lados, os eucaliptos desapareceram. Apenas a vegetação natural toma conta do lugar: mangabeiras, pequizeiros, jacarandás, gameleiras, coqueiros ... A mulher continua cantando e ele lembra-se, então, que tudo aquilo é apenas uma questão de tempo.