sexta-feira, 27 de abril de 2012

A GUERRA E AS MÃES


A GUERRA E AS MÃES


@ElismarSantos


A pátria precisava de novos recrutas, homens capazes de matar ou morrer pela felicidade geral da nação. Por isso, ele foi. Inscreveu-se contra a vontade da mãe; o pai era o seu único incentivador. A namorada fora deixada para trás; também deixara os amigos, as noites de farra, os sonhos da medicina e o futebol nos finais de semana. Seria um voluntário; para a mãe um visionário.

Passara muito tempo dentro do quartel; aprendera táticas de guerra sonhara com as balas de sua metralhadora perfurando os corpos inimigos nas grandes batalhas na defesa do seu país; sofrera momentos de provações e humilhações. Tornara-se num verdadeiro guerreiro. Guerreiro de treinamento, é bem verdade; mas um GUERREIRO DE VERDADE.

Todos os dias ligava para o pai. Ficavam horas a conversar. Falava sobre o treinamento, sobre o sofrimento e o prazer que sentia com isso. Afirmava não ter medo de sangue, nem do inimigo e, acreditem, nem mesmo da morte. Confessava a vontade de ir à guerra; lutar pela nação, tornar-se num herói. E os olhos do pai enchiam-se de lágrimas, de felicidade, claro! Enquanto a mãe chorava a um cantinho da cozinha.

Seu desejo foi realizado. Sexta-feira passada, numa manhã de cara emburrada, viajara com o resto do pelotão para a fronteira norte do país, onde enfrentariam uma facção rebelde que planeja derrubar a presidente e transformar a república em Monarquia, voltando aos tempos de D.Pelica em Monarquia, voltando aos tempos de D. transformar a rep morte.o e o prazer que sentia com isso.lhas na defesa do seu pdrodro. Fora feliz, carregando na bolsa, uma velha foto dos pais e um terço abençoado pelo pároco do quartel.

Faz já uma semana que partira. Não mandara notícias, nem cartas ou telefonemas. O pai se enche de orgulho ao falar da coragem e do patriotismo do seu único filho. No cantinho da cozinha, enquanto chora copiosamente, a pobre mãe sente, do fundo de sua alma, que nunca mais há de vê-lo novamente.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

AULA DE LITERATURA


AULA DE LITERATURA


@ElismarSantos

Passei todo o dia anterior preparando a aula de hoje: Romantismo, Realismo, e tantos outros ismos que compõem as Escolas Literárias brasileiras e portuguesas. Foram horas e horas debruçado sobre livros, internet e outras fontes de pesquisa; noite sem dormir, treinamento, concentração e o pensamento sempre focado no discurso a ser proferido.

Eis que é chegado o grande dia. A apreensão é enorme. A matéria na ponta da língua; cabelo cortado e penteado; barba feita e roupa nova para a apresentação. Nada pode sair errado, nem uma linha, uma palavra, uma vírgula que seja. O suor já escorrendo pelo rosto e uma vontade imensa de fugir.

 Bate o sinal e os alunos não entram. É dever do professor correr atrás de cada um e colocá-los assentados em suas carteiras. Começa, então, toda a explicação preparada: Fagundes Varela, Castro Alves, José de Alencar, Machado de Assis e outros; as questões religiosas, sociais, econômicas, a poesia e a prosa, enfim...

Enquanto isso, uma turminha conversa no cantinho da sala; dois alunos dormem, já quase aos roncos; quatro olham para as paredes e o teto, à procura de algo que lhes prenda a atenção; uma mocinha apaixonada escreve uma cartinha de amor para o namorado imaginário e, no fundão da sala, alheio à toda aquela balburdia, um poeta adolescente escreve a sua mais bela poesia, com todo o esmero que lhe é peculiar..

quarta-feira, 25 de abril de 2012

SOBRE ETS, FUTEBOL E O FIM DO MUNDO


SOBRE ETS, FUTEBOL E FIM DO MUNDO


@ElismarSantos


Ontem o Dionísio me veio com uma Crônica sobre um amigo seu que teria visto um Óvni. Debatemos sobre o assunto e não chegamos a uma conclusão. Assim, não estamos aptos a afirmar se os ETs existem ou não. Fato é que muita coisa estranha anda a acontecer por este mundo.

Dentre estas estranhezas, por exemplo, ontem à tarde o todo poderoso Barcelona foi desclassificado pelo Chelsea da Inglaterra, uma zebra em grandes proporções. E as muitas menininhas de onze anos que já andam por aí falando em namoricos! Tem alguma coisa estranha no ar. Talvez sejam extraterrestres, senão, podem ser apenas os sinais do fim do mundo.

            Antigamente os times tecnicamente melhores sempre ganhavam dos menores e as criancinhas de onze anos ainda brincavam de bonecas e sonhavam com doces e guloseimas. Quando se falavam em extraterrestres, pensava-se logo em Varginha, Chupa-cabras e assombrações. O mundo sempre estava por acabar, mas nunca que chegava ao fim.

            Hoje está tudo muito bagunçado, mas dizem que são reflexos da modernidade. Os extraterrestres vêm em grandes e brilhantes naves, como grandes cometas a chocarem-se contra o nosso planeta; os times pequenos chegam na casa dos grandes e descem-lhes o chicote e as menininhas de hoje pensam em namoricos, preferindo os garotinhos mais jovens, em detrimento à experiência dos da sua idade.

            Não me vejo apto a falar sobre Óvnis. Até digo que já vi algumas bolas de luz a transitar pelos céus em noites de lua cheia e cabeça tomada pelo álcool; mas daí assinalar que sejam nossos vizinhos espaciais, seria de mais. O que me inculca, por ora, são as fraquezas do nosso futebol e o assanhamento de nossas menininhas. E, vaticino, tudo isso são sinais do fim deste mundo grande e bobo!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O PASSAGEIRO


O PASSAGEIRO



Ao sair, ainda de madrugada, a mulher e o bebê dormiam. Não quis acordá-los, por isso, saiu em silêncio; sem dar um beijo, sem dizer um adeus. A lua estava bonita àquela hora e, do outro lado, os primeiros raios solares começavam a clarear o céu, como um holofote que vai se acendendo lentamente.
O ponto de ônibus era próximo, o problema era a superlotação. Tinha que andar espremido, balançando de um lado para outro, pisando nos pés dos vizinhos, sendo pisoteado por eles. Alguns se estressavam, diziam palavrões, reclamavam da vida, xingavam. Ele não. Ficava no seu canto, silencioso, cabisbaixo, ensimesmado.
O motorista tinha a cara fechada, como se estivesse de mal com os passageiros; não dizia um bom dia, um alô, apenas exercia, brutalmente, a sua função. Ele sim. Dizia um bom dia tímido, mas cheio de veracidade. Tinha esperança de que um dia tudo haveria de melhorar, de que num belo dia tudo haveria de se transformar.
Ele sonhava com uma casa maior; com o dia que teria dinheiro suficiente para levar o filho ao jogo do Flamengo; com o dia em que teria um carro novo; com o dia em que seria feliz. Agora eram só reclamações da mulher, pedidos não realizados do filho e todo aquele sofrimento para chegar ao trabalho.
Enquanto o ônibus virava, velozmente, as esquinas, ele sonhava; criava e recriava a casa que seria sua, igual àquela que via na novela, com uma piscina e um campinho de futebol. Imaginava a alegria do filho ao ver os grandes jogadores, os quais ele fingia ser nas peladas que jogava na rua cascalhada de casa. Sorria ao pensar em sua mulher feliz, enchendo sua face de beijo ao receber os vários presentes que traria todos os dias.
Sonhava de olhos abertos e com um grande sorriso nos lábios, quando o ônibus deu uma freada brusca. Um passageiro lá no fundo soltou um palavrão gostoso, como se aquilo matasse toda a sua ira. O motorista levantou-se e veio caminhando ao encontro do mal educado. Todo dia era do mesmo jeito. Ficariam por mais de meia hora naquela pendenga. Pediu que o cobrador abrisse a porta; desceu e seguiu seu caminho a pé. Apertada entre os que ficaram, sua esperança tentava sair para seguir ao seu lado.

OLHE PELA JANELA


OLHE PELA JANELA


@ElismarSantos


Esconderam um pedaço de bolo bem no fundo da prateleira. Dois dias depois, ao voltarem para recolhê-lo, nada mais estava lá. Ficaram, então, a procura do gatuno que o roubara. Tolos; não houve gatuno algum, mas sim a ignorância daqueles que acharam que a gostosura ficaria ali por todo aquele tempo.
Assim também é a vida. Às vezes deixamos nossos sonhos guardados em um cantinho escuro de nossa alma e partimos para as coisas mais urgentes. Depois, ao retornamos, não existe mais sonho, mas apenas migalhas que resistiram à ação do tempo e as quais não temos mais a força necessária para reaver.
Às vezes, ainda, o sonho persiste, mas nos falta força e coragem para realizá-lo, daí, então, sentamos à beira da estrada e ficamos a esperar que alguém apareça a realizá-lo para nós. Não aparecerá ninguém. Ficaremos ali, sentados, a esperar eternamente, até morrermos de tédio e tristeza.
Faça uma pequena força; abandone este texto por um instante e dê uma olhada pela janela... Não; não esta janela que dá para a sua rua. Olhe a janela da alma e veja qual é o seu sonho. Por que não realizá-lo, correr atrás, lutar por ele? Parece difícil, cansativo, impossível?
Verdade. Tudo é muito difícil; tudo é cansativo, mas nada é impossível. Tudo isso depende somente de nossa força de vontade, de nossa crença de que num belo dia tudo o que sonhamos vá se realizar. Volte à janela... A da rua... Os carros estão passando em alta velocidade; as pessoas apressadas descem ou sobem a rua. Algumas vão para o trabalho, outras para casa e outras, ainda, simplesmente caminham sem um rumo certo. Mas isso não importa. O importante é que elas estão se movimentando, buscando alguma coisa, embora, muitas vezes, nem mesmo saibam o que é.
Por fim, saia da janela e ande. Não escolha um rumo; apenas feche os olhos e ande. Ande com os olhos da alma e deixe que o sonho lhe guie e as suas pernas saberão, indubitavelmente, aonde chegar. Neste exato momento você haverá de saber que tudo isso não é um sonho, mas uma realidade que está doida para acontecer de verdade!

sábado, 21 de abril de 2012

TIRADENTES


TIRADENTES


@ElismarSantos


Joaquim José da Silva Xavier. De acordo com o meu amigo Aurélio, nascido em 1746 e enforcado em 1792. Tinha a profissão de Alferes, o que hoje, ainda de acordo com o meu amigo, seria o correspondente ao posto de segundo-tenente no glorioso exército nacional. Teria sido ele um dos líderes da Conjuração Mineira, mas, denunciado por Joaquim Silvério dos Reis, fora condenado à forca, o que teria acontecido no dia 21 de abril. E, por tudo isso, hoje é feriado nacional.
Todos nós brasileiros agradecemos profundamente ao bravo mártir por nos ter proporcionado mais este dia de folga; o que, não é uma exceção, um privilégio seu, haja visa que é este nosso imenso e bobo país um dos que possuem maior número de feriados em todo o mundo. Também não é unanimidade a veracidade do heroísmo do Tiradentes. Passeiam por aí várias outras histórias do alferes.
Dizem as sub-histórias que o senhor Joaquim da Silva nada mais era que um simples soldado que, por motivos de ocasião, também arrancava os dentes apodrecidos dos gentis; vindo daí a sua famosa alcunha: Tiradentes. Dizem ainda que o homem fosse chegado a uma boa dose de cachaça e que, por isso, andava a falar pelos cotovelos, assanhando a ira de vários outros indivíduos. Eis aí a razão de ser o único a ser enforcado, além de ser, claro, o que possuía menores posses e nenhum poder.
Afirmam alguns estudiosos, também, que o pobre homem passou muitos anos relegado ao ostracismo de sua lápide; mas eis que vieram os bravos militares, com sua famosa e progressista Ditadura, e, sentindo falta de um nome que “nacionalizasse” ainda mais os brasileiros, já tão norte-americanizados, escolheram o pobre homem para ser o mártir da nação.
Fato é que o pintaram com a suposta aparência de Jesus Cristo, escolheram um Judas para entregá-lo e, na impossibilidade de uma cruz, arranjaram uma corda para enforcá-lo, fazendo jus ao famoso jeitinho brasileiro. Eis aí, pronto e acabado, o nosso heróis mais famoso e idolatrado.
  Tudo isso, no entanto, são sub-histórias. Coisas que a história oficial nunca há de negar ou confirmar. Por isso, gozemos o feriado, tomemos muita cerveja, façamos um bom churrasco, namoremos o máximo que pudermos; mas não nos esqueçamos: amanha é domingo e, logo depois, vem a segunda-feira, dia de branco, com muito trabalho e apenas a saudade de mais um feriado do garboso e heróico José Joaquim da Silva Xavier, o nosso querido Tiradentes!