sábado, 29 de maio de 2010

A MENINA

A MENINA


Não era uma menina bonita, também não era simpática. Era, de fato, uma menina comum. Não tinha ainda seus quinze anos, também não teria menos que doze, treze ou catorze anos.Não tinha os olhos azuis, nem verdes, nem muito pretos, eram uns olhos tomados por uma cor estranha, olhos que chamavam a atenção de qualquer transeunte pelo que não eram e não pelo que poderiam ser. Era uma menina simples, que não tinha nada de diferente ou que chamasse atenção... Minto. Seus olhos chamavam pelo que não eram. Tinha também um pequeno acessório. Usava-o na cabeça. Tratava-se de um pequeno capuz vermelho que usava para tampar o feio cabelo que trazia desarrumado sobre a cabeça. Seu nome - o da menina- era Chapeuzinho Avermelhado.
Na verdade, pra ser bem mais franco do que o necessário, o seu nome era Tosvaldina, mas convenhamos... Isso lá é nome que se ponha numa menina. Que se chamasse Marieta, Luzia, Helena, Beatriz, Solange... Mas, Tosvaldina não! Pois bem, Tó, ou Chapeuzinho Avermelhado, fazia jus ao nome. Era uma menina chata que só vivia às turras com sua mãe, uma velha senhora, que o mundo tratara de ensinar muitas coisas. Sua vida, até algum tempo depois do casamento, era uma verdadeira bagunça: mexera por muito tempo com drogas, bebia, fumava e trepava todos os dias. Perdoem-me os puritanos, mas, de verdade, mulheres fazem Amor, a mãe de Tosvaldina trepava. Fazia-o não porque sentia prazer, mas porque precisava sempre de mais dinheiro para comprar as suas drogas.
Tosvaldina, certa noite, após uma briga horrenda com sua mãe, resolveu fugir de casa e ir para a casa de sua avó. A mãe de Chapeuzinho saiu primeiro, foi à igreja fazer promessa para que a filha parasse de brigar com ela e, por qualquer motivo, espancá-la. A vida tinha mesmo ensinado à mãe de Tó como deveria ser a vida de um ser humano: era de casa para a igreja e da igreja para casa, virara uma mulher direita. Chapeuzinho, por seu lado, era uma criatura sem qualquer juízo. O pai fugira no mundo e nunca mais dera as caras; também, não fazia a mínima falta, era um cachaceiro sem- vergonha.
Chapeuzinho Avermelhado saiu de casa, enquanto a mãe rezava e pedia perdão pelos seus pecados. Não deixou nenhum bilhete, nem recado, nem um sinal de fogo ou fumaça, apenas foi-se para não se sabe onde. Não se sabe mesmo, pois, pensara em ir para a casa da avó, uma velhinha, dona de uma casa de acompanhantes afastada cerca de meia légua da cidade, no entanto, chapeuzinho nunca chegara em sua casa. A mãe não tivera qualquer notícia da filha, a avó também não ficara sabendo do seu paradeiro.
Na pequena cidade, onde todo mundo conhece um muito da vida de cada um, alguns dizem que ela foi comida pelo lobo mau, um animal feroz que vivia assustando as menininhas do lugar; outros afirmam de pés-juntos que ela achara um vagabundo qualquer e fora embora para bem longe dali. Há ainda aqueles que têm certeza de que o "coisa ruim" veio, pegou-a pelo chapéu e levou-a para as profundezas do inferno. A mãe dela, porém, reza todos os dias para que, onde Tosvaldina estiver, que esteja feliz e a tenha perdoado de todos os pecados que cometera. E,todos os dias, na mesma hora em que a filha fora embora de casa, a mãe de Tosvaldina chora as mesmas lágrimas, lágrimas de uma mãe triste e solitária.
Um abraço do poeta.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A MULHER E O DESEJO 2


A MULHER E O DESEJO

Quase quatro horas e o sono não vinha. Sentia uma sede intensa tomar a sua garganta. Não queria se levantar, preferiu ficar deitada, sentido aquela agonia dengosa. Suava enormemente, mesmo sentido um intenso frio na espinha. Imaginava o corpo de um homem deitado sobre o seu, rezava fervorosamente, como se quisesse pagar todos os seus mais escabrosos pecados. Havia se deitado coberta por uma camisola vermelha, agora se despira totalmente.

Não sabia o que fazer. Um conflito entre o céu e o inferno, o bem e o mal, o prazer e a reza, parecia existir dentro do seu peito. Queria se levantar, sair a esmo pelas ruas, tomar um banho, fazer um café, pular da janela. Ela morava num apartamento. Não tinha coragem, era feminina demais para fazer tal atrocidade consigo mesma. A maioria das notícias de suicídio é de homens, mulheres são inteligentes demais para tamanha burrice.

Revirava-se de um lado para outro. As horas não passavam e, no tenebroso silêncio que tomava toda a extensão do mundo em que ela se encontrava, entrecortado, não raramente pelos miados de alguns gatos se amando num telhado próximo, era capaz de escutar os ponteiros do relógio num agonizante tic-tac-tic-tac... Queria sonhar, sentir, queria morrer de prazer. Estava desesperada, tinha vontade de gritar, de ficar quieta, de arrancar os cabelos, de se jogar dentro da sua imensa agonia prazerosa.

A noite demorara passar. Não havia pregado os olhos por nenhum momento. Sentia-se cansado. Sentia um grande desejo de prazer que tentava sair de dentro do seu âmago, mas não conseguia. Quem dera se um homem chegasse de mansinho num belo cavalo branco e a possuísse como se fosse uma linda princesa grega. Ficou sozinha no seu canto revirando em sua cama, até que a campainha tocou. Levantou-se rapidamente, estava toda molhada. Talvez fosse o seu príncipe encantado. Lavou o rosto, trocou de roupa, não poderia sair daquela maneira, e foi atender ao príncipe encantado.

Não era o seu príncipe. Severino, o porteiro, avisava com sua voz estridente de nordestino maroto que Carmélia, sua colega de setor na empresa, estava esperando-a para irem ao trabalho. Seria mais um dia de muito serviço e nenhum prazer.

Um abraço do poeta!

sábado, 22 de maio de 2010

A MULHER E O DESEJO


A MULHER E O DESEJO 1


Três horas da manhã. O telefone emudecido e o tempo sem querer passar. Quem sabe sair, tomar um chope em algum boteco, passear pelas ruas vazias da cidade... Não. Não tinha vontade alguma. Deitada na cama de casal, ela revirava a cada instante em busca de um corpo quente para se aquecer, em busca de um peito cabeludo com o qual pudesse disputar um espaço naquela imensidão inescusável de solidão.
Tentava ao menos uma feliz recordação. Uma lembrança de algum corpo perdido que encontrara sobre o seu corpo nu, num tempo distante em que nem mesmo conseguia se lembrar direito. Nada. Apenas a solidão estava ao seu lado, às três horas de uma manhã fria, numa cidade grande, onde tantas coisas aconteciam, menos consigo mesma.
Virava de um lado para outro. Sentia suores, o corpo tremia, talvez não sentisse frio ou mesmo calor, mas, de fato, sentia coisas estranhas acontecerem no seu corpo. Tinha vontade de viver, de morrer; tinha vontade de sair e, ao mesmo tempo (estranho!), tinha vontade de ficar quietinha no seu canto.
Na verdade, o que ela queria mesmo era um homem. Que fosse um homem cabeludo, másculo, que a possuísse e a fizesse sentir-se mulher. Tinha mais de trinta anos e fazia muito tempo que não sentia um outro corpo junto ao seu. Pensou algumas coisas absurdas, teve vergonha, quem sabe nojo, daquilo que pensara; contorcera-se na cama, começou a rezar, como se tivesse cometido um grande pecado.
Era uma mulher direita que morava sozinha. Trabalhava todos os dias num bom serviço: ganhava bem, tinha uma vida tranqüila, mas fazia tempos que não era possuída por um homem. Quase quatro horas da manhã e ela ainda não conseguira adormecer. Lá fora uma gata miava forte, talvez pedisse socorro para os deuses dos gatos.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

COISAS MUNDANAS

COISAS MUNDANAS

Era uma vez...Toda história fantástica começa com esta expressão, no entanto, esta não é fantástica. Trata-se de uma mulher, talvez seu nome fosse Maria, Joana ou Lúcia. Morava num lugar distante, não tão distante que não se pudesse chegar. Não era casada, nem conhecera o corpo de um homem. Aquela era uma mulher casta, morava sozinha em sua casa, no meio do nada. Não tinha bichos para criar, não tinha nem um amigo imaginário, era realmente uma mulher sozinha no mundo.
Aquela mulher ia à cidade apenas uma vez ao mês. Nesse dia, pegava o dinheirinho mirrado da aposentadoria, comprava a feira do mês todo, dava uma passadinha na igreja, rezava por são Judas Tadeu (ela só conhecia esse santo) e, depois de realizadas essas tarefas, ia embora, a pé, sozinha, até sua casa. Não tinha medo, não sabia o que era esse sentimento. Ela recebia apenas um salário, gastava bem menos da metade e o que sobrava deixava guardado debaixo do colchão em que dormia.
Um dia, após fazer todo o trajeto que estava acostumada, aquela mulher ia embora para a sua casa. Na estrada um homem veio acompanhando. Não teve medo, talvez nem tivesse prestado atenção naquele homem que a seguia. Toda a população da pequena cidade vira aquela cena, não se preocuparam, não fizeram conta daquele fato. No outro dia, os principais jornais da região apresentavam em letras garrafais, na primeira página:
"Mulher, de aproximadamente, é encontrada morta em matagal próximo à pequena cidade. Segundo a polícia local, aparentemente fora estuprada e o bandido, ou bandidos, invadiu a sua casa e levou todo o dinheiro que a mesma guardava debaixo do colchão, aproximadamente 3.000 reais". A mulher nunca houvera sentido o corpo de um homem junto ao seu, morava sozinha e não se importava com coisas materiais.

domingo, 16 de maio de 2010

UMA PEQUENA HISTÓRIA

UMA PEQUENA HISTÓRIA



“Há mais coisas entre o céu e a terra do que imagina a nossa vã filosofia.”, o filósofo que disse estas palavras está mais do que certo. Com certeza era um daqueles sujeitos que viviam olhando os transeuntes em alguma esquina de uma pequena cidade. Não digo isto por experiência própria; se bem que já, por várias vezes me peguei sentado numa esquina qualquer, ou debaixo de alguma arvorezinha, ou mesmo à porta de um boteco, a falar peculiaridades de alguém que por ali passasse.
O interessante é que sempre tem algum sujeito que chega e diz “deixa eu lhe contar uma pequena história”. Sempre existe alguém que valha uma história. Em sua maioria são histórias banais, mas que por ser alheia tem lá o seu valor. Em um lugar pequeno então! Nem se fala! Sempre tem aquele sujeito que tem um causo de um outro para bisbilhotar e, o que é melhor, espalhar!!!
Não serve, este artigo, como crítica. Simplesmente, tem-se neste espaço o testemunho de um indivíduo que arranjou tempo para fazer esta observação!... Talvez eu também seja um desses filósofos; desses que ficam por aí a observar a vida alheia... Não. Creio que não. Talvez eu seja mesmo apenas mais um indivíduo, sozinho em meio a toda essa balbúrdia que toma conta deste mundo.
Ainda não chove no sertão. Mas, quem sabe, pode ser que um dia o sertão vá mesmo virar mar. Afinal, como diz o filósofo: “Há mais coisas...”

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A MALA

A MALA

Uma pequena casa bem no centro da cidade. As paredes pintadas à cal. Umas telhinhas velhas; duas janelas de madeira à frente, demonstrando toda a fragilidade daquela casa. Dizem alguns que a casa é a figura, a imagem metafórica de quem vive em seu interior. Pois bem, que assim seja: dentro dela morava uma pobre senhora. Mais de setenta anos; o corpo esquálido, fragilizado pela força do tempo e pela fragilidade da raça humana; os cabelos brancos cobertos por um lenço velho, o qual um dia fora extremamente alvo, mas agora trazia apenas o encardimento do passar dos anos.
Era uma cena triste o que se via ali: em meio às grandes construções, uma casinha velha e decadente com uma decadente velhinha dentro. Tentaram de todas as forma tirarem-na dali; não aceitou. Disse, a pobre senhora, que fora ali que nascera e naquele lugarzinho queria terminar os seus dias. Ameaçaram despejá-la, mas a ignorância não foi capaz de enfrentar toda aquela serenidade e força de vontade.
Ninguém nunca havia entrado naquela casa; por isso, ninguém sabia que dentro dela, bem escondidinha num cantinho, junto à porta da sala, havia uma mala sempre pronta à espera de uma longa viagem. Como ninguém sabia da existência daquele objeto, nunca lhe foi perguntado o motivo da mesma se encontrar sempre pronta e deixada naquele cantinho discretamente.
Um dia, serenamente, assim como vivera, a velhinha terminara os seus dias. Ninguém reparou no fato, mas a malinha sumiu. Ninguém sabia da sua existência, ninguém sabia o porquê da sua estada ali; mas, misteriosamente ela havia sumido junto com a pobre velhinha. Ninguém sabia, mas, ainda que soubesse, ninguém seria capaz de compreender que naquele objeto estavam guardadas todas as crenças de uma grande mulher.


ELISMAR SANTOS 10/09/2009

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O MENINO VOADOR



A história não conta. Não é interessante falar de uma história que não esteja situada num ponto da própria história. Mas, de fato, aconteceu. Não existia televisão. Ninguém nas redondezas do Sanharó conhecia o pai do avião; nenhum dos sertanejos, homens rudes e incultos, tinha namorado o vôo de um avião. Avistassem-no e preveriam o fim do mundo. Não se pode afirmar uma data, nada é possível que se prove, mas os pássaros, com toda certeza, já sobrevoavam o lugar. A vida do homem do sertão era difícil, os tempos eram cruéis, os sonhos eram escassos; a miséria era a companheira do homem do campo.
A avó, já beirando o rio da morte, dormia num quarto perto da cozinha; parecia gozar um sono tranqüilo, mas ele sabia do seu sofrimento, da sua angústia profunda, da sua imensa vontade de adormecer numa noite estrelada e nunca mais se levantar. O pai, que era um homem bom e trabalhador, alçou vôos maiores e foi morar com Deus, junto dos anjos e São Pedro, o seu santo de devoção. A mãe era uma mulher forte; às vezes ele parava e ficava olhando firme a sua face: parecia velha, cansada, um verdadeiro trapo; eram os restos de uma vida de sofrimento e desencantos. Ela trabalhava na roça, cuidava da casa, cuidava da velha adoentada e, todos os dias, ao sair para o trabalho e quando chegava de tardezinha, abençoava-o com um carinhoso beijo na testa.
A casa era velha, pequena e um tanto apertada: dois quartos pequenos, uma sala e uma cozinha; as portas eram escoradas com tocos ou lascas de lenha; o chão de terra batida era sempre coberto de folhas, fumo que a velha quentava na cinza para limpar as dentaduras e titica das galinhas que invadiam a casa em busca de restos de alimento. Desde a morte do velho nunca mais puderam comer um naco que fosse de carne; passavam por sérias necessidades e a mãe já estava por desistir da vida.
Geraldo era muito pequeno, mirrado, tinha os cabelos negros e uns olhos grandes que transmitiam uma imensa tristeza. Passava todo o dia sentado junto à porta da cozinha observando os pássaros que voavam nas árvores do quintal; eram pardais, papa-capins, pássaros pretos, canários e outros tantos cujos nomes ele desconhecia. Os papa-capins eram de extraordinária beleza, mas eram os canários que mais lhe chamavam a atenção, gostava de vê-los voando, era como se desfilassem no ar. O menino não era capaz de pensar tamanha comparação, mas, à sua maneira singela de refletir, os canários eram como uns bailarinos a dançarem numa pista de gelo; com leveza, graciosidade; uma arte inimitável.
A mãe acordava antes de raiar o dia, preparava o café, arrumava a casa e seguia para o trabalho na roça. Assim que os pássaros começavam a tocar a sinfonia musical da manhã, o menino se levantava, tomava o seu café e sentava-se junto à porta, onde permanecia até que a mãe retornasse para preparar o almoço. A avó passava o todo o dia deitada, ora desfiando as contas de um velho rosário, ora conversando com os espíritos, contando casos de muito tempo passados.
Ele gostava de observar o vôo das aves, achava-o muito bonito. No começo, quando se entendeu por gente, observava-lhes apenas a beleza dos vôos, não pensava, não imaginava, apenas olhava àquela cena como um mero espectador. De uns tempos, porém, uma idéia andava martelando a sua cabeça: por que os pássaros voam? Daí surgiam várias outras questões: Para quê ? Para onde? Como... Como é que um bichinho daqueles podia voar tão rápido e numa altura tão grande? Às vezes parecia que ia enlouquecer, começava a matutar aquelas perguntas e não conseguia mais parar de pensar, até que sua cabeça doía e ele começava a chorar. Uma grande agonia tomava conta do seu coração, um vazio fazia a barriga doer; o menino sofria então ele corria e pulava dentro do rio para poder se refrescar.
Geraldo não tinha coragem de contar o que sentia para a sua mãe; quase nunca conversavam de verdade, a não ser quando ela o quisesse reclamar ou passar alguma orientação. Um dia, quando a mãe estava para a roça, foi até o quarto da avó; a velha parecia dormir, tinha os olhos fechados e a boca estava semi-aberta, como se quisesse roncar mas não tivesse ar para completar o movimento, não lhe saía barulho algum além do habitual ronronar sôfrego que mais parecia um último suspiro. Chegou bem junto da cama, balançou um pouco o abdome da velha e, vendo que estava acordada, perguntou:
-Vovó, por que os pássaros voam?
A avó parecia pensar um pouco antes de responder, se bem que nem mesmo ela sabia. O menino gostava muito da velhinha e a via como a pessoa de maior sabedoria na face da terra, talvez pelos cabelos embranquecidos, talvez por seu rosto enrugado. Ele era muito pequeno e não era, ainda, capaz de distinguir velhice e sabedoria.
– Ora, meu filho, é porque os pássaros têm pena.
O menino tinha pensado nessa hipótese, mas achava simples demais, ademais, as emas também têm penas e nem por isso são capazes de voar. Mas a avó era muito inteligente e, com certeza, tinha toda a razão.
- Quer dizer, então, que se eu pegar umas penas e colar no meu corpo eu também posso voar?
A velha não tinha idéia de como responder àquela pergunta do neto. Nunca tinha pensado no assunto. Talvez pudesse dar certo; mas por que, então, as galinhas não voavam? Quem sabe pudesse haver uma técnica especial, senão, só servissem penas de passarinho voador...
- Olha, meu filho, qualquer um pode voar. É a coisa mais fácil que existe, basta ter técnica e usar asas de passarinho, que são mais leves e tão forte quanto às penas de galinha.
- Será que palha de arroz serve vovó?
Mais uma vez a velha não sabia o que responder. Virou a cabeça para o lado e começou a pensar; nunca tinha pensado nesta hipótese, nunca tinha pensado em gente voando como passarinho. Tentou imaginar duas asas de palhas de arroz; uma armação de arame; um saco de estopa; linhas fortes.
-Pode ser. Eu acho que agüenta...
Antes que ela pudesse terminar, o menino saiu em disparada para o quintal. Tinha de começar os preparativos; logo, se conseguisse todo o material que precisava, faria o seu primeiro vôo e poderia sentir a mesma liberdade que os pássaros sentem.
A mãe estranhou quando, ao chegar da roça, não avistou o menino sentado junto à porta; perguntou à avó sobre o seu paradeiro, ela disse não saber de nada, a cabeça andava fraca e nem mesmo o que havia se passado a cinco minutos a velha seria capaz de recordar. Já era noite quando o menino apareceu em casa. Ao ser indagado pela mãe sobre o seu desaparecimento, disse que tinha passado todo o dia na beira do rio inventando e que no outro dia teria que voltar para que ele lhe ensinasse algumas técnicas. A mulher não entendeu nada do que o filho queria dizer, mas despreocupou-se, eram apenas maluquices de criança.
Durante os dois dias seguintes os fatos se sucederam: o menino saía de casa pouco depois que a mãe seguia para o trabalho. No primeiro dia tratou da construção das asas; nos outros, repetia a mesma cena: corria batendo os braços, como se fossem asas e pulava no rio. Era uma tarefa árdua, mas ele sabia que a recompensa logo chegaria.
Finalmente o grande dia havia chegado. Pegou as asas e com elas sobre os ombros seguiu para casa. Era domingo e a mãe não trabalhava, queria fazer-lhe uma surpresa. Chegou na ponta dos pés, escondeu as asas a um canto da parede , sentou-se junto à porta e pôs-se a observar a paisagem. Não dava para pular de nenhum lugar, a não ser que saltasse da mangueira, mas de lá não poderia correr, tomar impulso. Geraldo ficou algum tempo pensando, até que chegou à conclusão: “É de lá que os pássaros voam, sem correr, sem ter qualquer força para impulsioná-los”. Pegou novamente as suas asas, vestiu-as e com toda a dificuldade subiu a mangueira até o galho mais alto da árvore. Sentiu um friozinho na barriga, estava com medo, mas pensou na alegria que a sua mãe sentiria ao vê-lo voar, pensou na liberdade que, até aquele momento, somente os pássaros desfrutavam.
Antes de pular, com as asas nas costas, gritou por sua mãe, que estava na cozinha e pediu:
-Bença, mãe!
A mãe não teve nem tempo de abençoar o filho.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

OS MENINOS E A BOLA

Naquele tempo é que era chuva! As águas caíam sem dó nem piedade, mesmo. Não tinha problema, brincávamos na chuva. Nessa época, a porta de minha casa já era asfaltada, então íamos brincar na rua de baixo. Um bando de moleques correndo atrás de uma bola.
No início era bola de meia, quando tinha meia, se não valia bola de plástico mesmo, pegava-se um punhado de plásticos velhos e, como num passe de mágica, eis uma bola! Não, não pegávamos resfriado. Não me lembro de qualquer gripezinha por causa dos jogos sob a chuva... Pra falar a verdade, não me lembro de doenças durante a infância. A não ser algumas arrancadas da cabeça do dedão do pé – mas isso era a prova de que jogávamos bola na rua...
As brigas eram inevitáveis, mas eram brigas de meninos: um empurrava de cá, outro revidava de lá, até que um mais vantajoso vinha e dava o sinal:
- quem for mais homem, cospe aqui! – O mais adiantado dava a cusparada e a zorra estava armada. No outro dia, estávamos todos lá, brincando de bola de novo.
Não tinha esse negócio de tênis, o pezão ia de encontro ao chão, sentindo a terra molhada dos dias de chuva ou o ardor encardido de um dia de sol. Os pés eram cascudos, rachados, sujos, mas eram pés de jogadores, pés pequenos de grandes homens que se criavam correndo atrás de uma bola.
Não, não saiu nenhum grande futebolista daqueles jogos, nem doutores ou políticos. Na verdade, ninguém saiu. Até hoje, quem passar por aquela rua numa tarde de chuva, se ficar quietinho escutando, é capaz de escutar os gritos daqueles moleques e a harmonia dengosa da bola correndo pelo asfalto. Quicando, quicando...







CORAÇÃO DE JESUS 23/02/2010

domingo, 2 de maio de 2010

GALO CAMPEÃO MINEIRO 2010!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
AS MARIA DO CRUZEIRO NÃO PASSARAM NEM PERTO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

HAIKAI V




P/ Rubens Fonseca


Este livro aberto
Não conta nem metade
Da vida que esperei.



Coração de Jesus

A DESCOBERTA


GRANDES DESCOBERTAS

ELISMAR SANTOS

Antes que comece a ler está crônica, vai até a janela e, por favor, dá uma olhada no tempo. Veja direitinho. Vai chover?
Tudo bem. Não se preocupe, estou apenas testando a conjugação do meu imperativo, afirmativo e negativo. Tudo isto porque durante esta semana aprendi muita coisa. Sim, aprendi muita coisa! Como ?! Dando aula (ou, talvez vendendo aula) e prestando atenção no que se passa ao nosso redor. Eis algumas descobertas:
. A vírgula é de grande importância no nosso dia-a-dia, pois se não a usarmos de forma adequada podemos perder todo o sentido de uma frase, de um texto, quiçá de nossa vida;
. O adjunto adverbial, quando no final da frase, não pede a vírgula; no entanto, se deslocado do seu habitat natural, não consegue viver sem ela;
. Carpe Diem não é uma filosofia vã e sem fundamento, contrariamente, é o correto aproveitamento de cada instante, com responsabilidade e objetividade.
O que temos até aqui são apenas descobertas escolares; o mais importante, aparentemente, muitos ainda não são capazes de compreender: Secas intensas, terremotos avassaladores, chuvas catastróficas, frios insuportáveis, o derretimento das geleiras polares, o efeito estufa... Será que a natureza não está nos dando algum aviso importante?
Mais uma vez, por favor, vai até a janela e, por favor, dá uma olhada no tempo. Veja direitinho. Vai chover?

Um abraço do poeta!


Coração de Jesus

sábado, 1 de maio de 2010

GRANDES DESCOBERTAS

GRANDES DESCOBERTAS

ELISMAR SANTOS

Antes que comece a ler está crônica, vai até a janela e, por favor, dá uma olhada no tempo. Veja direitinho. Vai chover?
Tudo bem. Não se preocupe, estou apenas testando a conjugação do meu imperativo, afirmativo e negativo. Tudo isto porque durante esta semana aprendi muita coisa. Sim, aprendi muita coisa! Como ?! Dando aula (ou, talvez vendendo aula) e prestando atenção no que se passa ao nosso redor. Eis algumas descobertas:
. A vírgula é de grande importância no nosso dia-a-dia, pois se não a usarmos de forma adequada podemos perder todo o sentido de uma frase, de um texto, quiçá de nossa vida;
. O adjunto adverbial, quando no final da frase, não pede a vírgula; no entanto, se deslocado do seu habitat natural, não consegue viver sem ela;
. Carpe Diem não é uma filosofia vã e sem fundamento, contrariamente, é o correto aproveitamento de cada instante, com responsabilidade e objetividade.
O que temos até aqui são apenas descobertas escolares; o mais importante, aparentemente, muitos ainda não são capazes de compreender: Secas intensas, terremotos avassaladores, chuvas catastróficas, frios insuportáveis, o derretimento das geleiras polares, o efeito estufa... Será que a natureza não está nos dando algum aviso importante?
Mais uma vez, por favor, vai até a janela e, por favor, dá uma olhada no tempo. Veja direitinho. Vai chover?

Um abraço do poeta!


Coração de Jesus