A MALA
Uma pequena casa bem no centro da cidade. As paredes pintadas à cal. Umas telhinhas velhas; duas janelas de madeira à frente, demonstrando toda a fragilidade daquela casa. Dizem alguns que a casa é a figura, a imagem metafórica de quem vive em seu interior. Pois bem, que assim seja: dentro dela morava uma pobre senhora. Mais de setenta anos; o corpo esquálido, fragilizado pela força do tempo e pela fragilidade da raça humana; os cabelos brancos cobertos por um lenço velho, o qual um dia fora extremamente alvo, mas agora trazia apenas o encardimento do passar dos anos.
Era uma cena triste o que se via ali: em meio às grandes construções, uma casinha velha e decadente com uma decadente velhinha dentro. Tentaram de todas as forma tirarem-na dali; não aceitou. Disse, a pobre senhora, que fora ali que nascera e naquele lugarzinho queria terminar os seus dias. Ameaçaram despejá-la, mas a ignorância não foi capaz de enfrentar toda aquela serenidade e força de vontade.
Ninguém nunca havia entrado naquela casa; por isso, ninguém sabia que dentro dela, bem escondidinha num cantinho, junto à porta da sala, havia uma mala sempre pronta à espera de uma longa viagem. Como ninguém sabia da existência daquele objeto, nunca lhe foi perguntado o motivo da mesma se encontrar sempre pronta e deixada naquele cantinho discretamente.
Um dia, serenamente, assim como vivera, a velhinha terminara os seus dias. Ninguém reparou no fato, mas a malinha sumiu. Ninguém sabia da sua existência, ninguém sabia o porquê da sua estada ali; mas, misteriosamente ela havia sumido junto com a pobre velhinha. Ninguém sabia, mas, ainda que soubesse, ninguém seria capaz de compreender que naquele objeto estavam guardadas todas as crenças de uma grande mulher.
ELISMAR SANTOS 10/09/2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário