sexta-feira, 8 de setembro de 2017

UM POEMA BRASILEIRO

Toda poesia inicia-se num devaneio metafísico.
Algo como uma pequenina e aloprada andorinha
Perdida num intenso (e imenso) matagal de ilusões.
Mas
Eis que a minha poesia
Que cisma em ser rústica e sistemática
Descamba às profundezas da politicalha
Inundando-se nas várias caixas em aranzel
Para
Depois
Já mais calma e influente
Poetizar-se num rio seco de emoções
Onde já não chovem mais palavras
Nem emergem dos sulcos queimados
Quaisquer gotículas de esperança.
Ao longe,
Enquanto minha triste poesia canta
Uma mínima luz me surge
Como uma lucidez em meio à noite
Escura, solitária e impiedosa
Desta gleba podre e sem futuro.

domingo, 3 de setembro de 2017

TONICO E A TRAIÇÃO

Agarrado ao cano da espingarda
O pequeno homem chorava
Tendo o corpo inerte aos seus pés.
Pela primeira vez
                  Ela estava aos seus pés
E rastejava.
Mas o pobre diabo não se alegrava,
Chorava apenas
                                  Copiosamente
Como se arrependesse do seu crime.
De súbito,
           O sangue subiu-lhe à cabeça:
- Nada poderia ser assim!
Ajeitou o corpo
                       Endireitou-se
                                           E atirou.
Depois, já mais leve
                                          E liberto
Virou-se

                                           E voou.

sábado, 2 de setembro de 2017

PRIMEIRAS SETEMBRINAS

1.
A mínima poesia
Em seus poucos versos
E várias entrelinhas
Trazem mais informações
Que toda uma vida
Despejada no sofá.
A verdade é que muitas letras me confundem
E tenho medo de me afogar.
Sou péssimo nadador
Sem nem ter aprendido voar.
Por isso
Não me alongo :
Prefiro o morro ao mar.


2.
Livre o livro voou
Planou perto do sol 
Beijou a face da lua
E
Inesperadamente
Pousou num canto da biblioteca. 
Estava preso por amor.

3.
A décima parte de uma poesia
É construção.
Uma mínima parte
É mera lapidação.
Todo o resto
Luzes
Dores
E aforismos
São flores em desconstrução.

4.
Do galho seco surgiu uma folha
que deu semente e se fez em flor.

Acocorado debaixo da velha árvore
com o machado em mãos
O homem se via perdido numa encruzilhada:
Era ainda Agosto,
Ou a Primavera já se achegava?


5.
Desnudo,
Abro a gaveta 
E entre tantas caras
Procuro
Paciente
a que melhor se encaixe
Na minha pobre poesia.


6.
Nesta sórdida nau, navegamos ao futuro incerto.
Não é preciso planos
Teses ou ações. 
Basta que fechemos os olhos e abramos asas à liberdade.


Talvez não passemos de fantoches,
Inocentemente manuseados
Por alguma infante mente nuclear;
E, enquanto escrevo poesias,
Nalguma parte costeira desta pobre embarcação,
Algum poeta desanuviado
Já tente se libertar
Aportando-se na triste praia da razão.