terça-feira, 28 de junho de 2011

UMA QUESTÃO DE OBESIDADE

            Já dizia uma especialista por aí que a obesidade é uma doença inflamatória. De fato, vejo-me seriamente inclinado a concordar, pois, apesar de não gozar de tal sintoma obeso, observo que minha barriga se avoluma sempre um pouco mais.
            Um velho amigo meu, que começa também a se avolumar, diz-me à boca-pequena já ter tentado todo tipo de regime dos que já ouviu dizer, mas que não vira qualquer resultado que valha o sofrimento. Da minha parte, deixo que a barriga cresça e apareça. Sou do tempo em que a pochete avantajada - assim como a carequinha saliente- indicava muito dinheiro ou safadeza. Infelizmente, ambos me são faltos.
            O amigo velho, ainda hoje, me apareceu com um regime novo, me parece que este é japonês. Dei-lhe um arigatô e saltei para junto de uns pudins que gulosamente me aguardavam sobre a mesa. Sobre regimes desconheço todos, tendo me safado até mesmo do militar.
             Espero que o regime lhe valha alguns quilinhos a menos. Enquanto isso, vou procurar algum na geladeira, pois a escrita me dá uma fome dos diabos.


Coração de Jesus  28/06/2011

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Um abraço do Poeta!

RECORDAÇÕES

             Conversando com um aluno na sala dos professores e escrevendo estas linhas, noto o quão vagos são os nossos pensamentos e no quanto somos capazes de voar em um mínimo tempo de distração, dando espaço às divagações e ao saudosismo, muitas vezes exacerbados.
              Eis que volto aos anos de 1980, durante as minhas primeiras letras. Feito flashes as lembranças surgem: a professora com o seu perfume cheio de letras que se impregnava em minha mão nas curvas de cada letra que ela me ensinava a desenhar; os alunos reunidos no pátio para cantarmos uma música estranha, com umas palavras esquisitas, mas que a diretora dizia sempre ser o símbolo da nossa pátria; a descoberta, ao dicionário, de uma palavra estranha que diziam ser palavrão mas o livro desdizia e depois, os homens, teríamos certeza de que não era...
              As lembranças se fundem e confundem-se no encardido da folha ao misturarem-se com uma voz longínqua a me dizer puerilidades e um barulho estridente afugenta-as ao exílio escuro do baú das recordações, restando-me apenas a bolsa e a vida, esbranquiçados por um pó de giz que teima em ficar.

Coração de Jesus, 27/06/2011 
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Um abraço do poeta! 

domingo, 26 de junho de 2011

A MANHÃ

A MANHÃ

A manhã é uma menina
A carregar os livros e a vida
Por um asfalto negro e frio
Com um sorriso e
Um olhar estudantil.

A manhã é uma menina
Andando alegre pelo asfalto
Frio............frio...............frio
Enquanto o poeta ainda sonha.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

PAPEIS BRONZEADOS

PAPÉIS BRONZEADOS



O tempo passava depressa. Quase hora do almoço e a encomenda ainda não havia chegado. Camila começava a se preocupar; se não chegasse até às onze perderia o emprego. Chefe chato é um saco, tudo isso por causa de um engano. Se imaginasse que uma simples viagem fosse causar todo aquele problemão, não teria aceitado aquela droga de passagem. Já não estava nem aí pra nada, que se fodesse todo mundo.
Na verdade estava bastante preocupada. Era segunda-feira, o chefe chegaria apenas ao meio-dia. Ela e alguns amigos foram passar o final-de-semana na praia, um pequeno descanso para o corpo e para a sua mente. O convite feito à última hora nem deu tempo a um pouco de reflexão. Foi apenas o tempo de ir até a casa, arrumar as malas, tomar um banho e seguir para o aeroporto. Que cabeça mais amalucada a dela: ao fazer as malas, ainda com os papéis do escritório sobre a cama, pegou tudo o que encontrou pela frente e jogou dentro, inclusive a danada da papelada. Uma tremenda de uma caceteação. Na praia, bebida e diversão; diversão e muita bebida, esqueceu da mala, e os papéis ficaram juntos.
A primeira reação ao chegar em casa foi o desespero. Depois, uma pausa para pensar e veio a solução: o jeito era ligar para o hotel e pedir ao gerente que remetesse os danados via Sedex, que ele não se preocupasse com os gastos, tudo ficaria por sua conte (Que merda!). A propaganda ainda diz que a encomenda chega até as dez horas do outro dia; já eram dez e meia de uma segunda-feira fatídica. Doze anos naquele emprego; agora seria despedida por causa de uma papelada vagabunda!Não. Não seria. Não entregaria os pontos desta maneira.
Ligou para o hotel. Estava alterada, quase que espancava o pobre gerente pelo telefone. Ele havia mandado os papéis ainda no domingo à noite, já era para terem chegado ao escritório. Ligou para os Correios; uma eternidade para lhe atenderem. Enquanto não era atendida treinava algumas palavras cabeludas para oferecer àquele povinho vagabundo; Não era muito difícil lembrar, xingava mais de oito horas por dia, era uma expert no assunto. Uma mocinha muito educada lhe atendeu; pediu desculpas pela demora e prontificou-se a resolver qualquer que fosse o problema. Camila viu-se desarmada; não tinha coragem de dizer os palavrões que havia treinado a aquela menina tão educada. Sabia que ela era treinada para tratar aos clientes daquela forma, afinal também era uma secretária (Há mais de doze anos), mas parecia uma mocinha do outro lado; começou a imaginar a sua interlocutora: uma mocinha de uns dezoito anos, recém-chegada de alguma cidadezinha do interior, costumeiramente assediada pelo seu superior sem querer, ou poder delatá-lo, tinha que ganhar tempo no serviço. Um servicinho de merda! A moça disse que o Sedex já não estava na agência, com certeza já tinha sido levado para o escritório; talvez estivesse preso no trânsito, mas não se preocupasse, pois logo chegaria. Estava bastante nervosa, mas se conteve , agradeceu e desligou o telefone.
Sentia uma raiva tremenda. Não gostava daquele serviço, mas era tudo o que seus estudos lhe permitiam, tinha apenas o ensino médio; fizera um cursinho de inglês e algumas horas de um cursinho básico de informática; nada de importante para quem quisesse um emprego melhor. Sentia raiva de si mesma. Agora que as coisas se complicavam para o seu lado, tinha raiva de sua paralisia; nunca havia se preocupado com o desemprego, nunca quisera fazer um cursinho diferente, modernizar-se, inteirar-se com o mundo e suas evoluções. Era uma ultrapassada.
Já eram onze e meia da manhã e nada da papelada chegar. Pensou em deixar o escritório sozinho e correr atrás do papel; não sabia por onde ele deveria passar e, além do mais a cidade é imensa. Desistiu logo dessa idéia maluca. Deitou a cabeça sobre a mesa, sentia-se desconsolada; não sabia de que os papéis se tratavam, mas deviam ser coisas importantes para o chefe. Tinha certeza, restavam-lhe apenas mais meia-hora de serviço, após o meio-dia seria mais uma desempregada a inflamar as filas do Sine. Vida de cão! Por que não ter estudado mais um pouco, ter feito uma faculdade qualquer, existem tantas por aí, bastava pagar e teria um diploma em mãos. Não precisava tanto, bastava ter um pouco mais de juízo, cabeça oca! Tinha que ter olhado o que estava jogando na mala; por causa de um final-de-semana besta e uma cabeça de vento perdia doze anos de emprego, e o que é pior, por justa causa, sem direito a qualquer indenização.
Camila começou a sentir-se desesperada. Não sabia o que fazer; não conseguia pensar em forma alguma de se livrar daquela fria em que se metera. Estava perdida, de que forma iria explicar para os pais que havia sido demitida? Como iria ajudá-los nas despesas de casa? Logo agora que o pai fazia planos para comprar um carro novo. Ficariam decepcionados. Que bela filha que tinham! Uma ingrata. Tantos anos de luta para sustentá-la e ela fazia aquela besteira, tudo por um final-de-semana na praia. Uma merda!
A cabeça da secretária começou a rodar. Sentia-se zonza, tinha vontade de vomitar, derrubar tudo o que estava sobre a sua mesa de trabalho, chutar tudo o que encontrasse pela frente. Estava quase enlouquecendo. O escritório ficava no quinto andar de um prédio comercial no centro da cidade, a rua àquela hora estava bastante movimentada: carros buzinando; pessoas gritando, indo para casa almoçar ou voltando para o serviço; motoqueiros ziguezagueando em meio a toda aquela confusão, uma bagunça infernal. A cabeça de Camila doía. Ela sentia febre, começava a delirar, via o chefe preenchendo a sua carta de demissão, uma menina ao telefone avisando que sua papelada já havia saído da agência dos Correios, uma grande onda vindo em sua direção. Olhou para o relógio: meio-dia em ponto. O elevador estava subindo, podia ouvir o barulho, com certeza era o chefe que chegava para o trabalho. Estava na hora de ser despedida. A cabeça doía, continuava delirando: veio uma onda maior em sua direção; ela tentou correr, mas foi engolida pela onda, sentia o seu corpo sendo levada pela água, era uma sensação de leveza, quase um êxtase; o corpo parecia flutuar pelo ar; a cabeça ainda doía, mas era uma dor prazerosa que quase a levava ao gozo. De repente um bate forte, surdo, era como se a onda a tivesse jogado na praia. As pessoas olhavam para ela com uma cara assustada, mas estava tudo bem, não sentia o corpo doendo, apenas uma dormência tomava conta de si. A areia da praia parecia estar com uma cor avermelhada, como se estivesse suja de sangue, devia ser o sol forte do litoral que a deixava com aquela coloração. Olhou para o céu, estava um dia bonito. Do alto de um prédio um homem gritava desesperado, era seu chefe e estava com uma papelada nas mãos. Camila ainda tentou dizer a ele que estava tudo bem, que os papéis já estavam chegando , brincando ainda tentou dizer que deviam estar todos queimadinhos de sol. Não conseguiu dizer qualquer palavra; sentia-se bastante cansada. Fechou os olhos e adormeceu.

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terça-feira, 21 de junho de 2011

DE NOITE

A noite chega lentamente. Na televisão, um casalzinho qualquer briga e faz sexo na novela. Na internet, Dionísio (www.dio-blogdodio.blogspot.com) reclama da vida. Lá fora, a noite cai, a noite cai, a vida passa. Nenhum cachorro late,Nenhum carro passa. Nada no escuro.
Aqui dentro, apenas as poesias passeiam pela sala, sem que ninguém possa vê-las. Ninguém além de mim. Isso não importa; afinal, que mal faz eu enxergá-las, se não posso tocá-las, senti-las, possui-las em minha alma.
No horizonte, um clarão se descortina. Talvez seja uma esperança que brote de alguma fonte inspiradora do destino; ou talvez seja a vida tramando os seus caminhos (e descaminhos) em busca de um lugar para encostar o seu corpo gordo e tirar uma soneca.
À noite, lá fora, aqui dentro, no horizonte... O que importam o ontem, o hoje, o amanhã? O que me roça a mente são somente as poesias que passeiam pela sala, cheias de salamaleque e malmequeres.


Um abraço do poeta!!!!!!!!!!

VAZIO

Sob o olhar atento do poeta
A aranha tece a teia

Faminto
Deitado na rede o menino
Vê a teia no prato
Vazio
Vazio.

Elismar Santos 21/06/2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O AMOR

Feito pássaro o amor se joga
E plaina pelo ar
Traçando um rastro no horizonte
Cortando nuvens de algodão
Aspirando carícias amorosas
Nos salgados lábios do oceano.

Como um disparo atômico
Uma dor profundamente
Fere-lhe o peito
Jogando-o contra os alpes rochosos
E o sorriso desfaz-se
Ao som pálido de um tango.

Feito pássaro o amor suspira
E um silêncio profundo
Vaga solitário por entre as nuvens
...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

BURACOS

Há um na minha rua
e vários na lua
Outro por entre as pernas
e um bocado pelo corpo.

Se pegasse cada um
que existisse em cada canto
e ajuntasse num recanto
Quanta agonia haveria (!)

E em cada buraco
escuro
Um grito agudo nasceria
e se teria criado
Uma nova poesia.

Elismar Santos 16/06/11

quarta-feira, 15 de junho de 2011

POESIA ÍNTIMA

POESIA ÍNTIMA



Os raios solares
Sôfregos
Beijam de relance
Os embaçados
Vidros da janela.

Era para ser íntimo
Um momento único
Só deles: ela e o sol
O sol e a janela
O sol a roçar os raios
Nos frágeis vidros.

Poeta impuro!

Era para ser único
Mas a pena
Da curiosa poesia
Maculou com tinta
A mais perfeita ilusão.




Luís Pires de Minas, 12/03/2009

terça-feira, 14 de junho de 2011

MANINO NO PARQUE

MENINO NO PARQUE



A notícia vem pelo som que um menino trás em sua bicicleta: “O parque está na cidade!” Não, não tinha nenhuma criança correndo atrás do som, também não havia qualquer criança nas calçadas com os olhos brilhando porque iria brincar no parquinho à noite, levado pelas mãos calejadas da sua mãe.
Apenas um menino observava aquela cena – os outros deveriam estar dentro de casa, assistindo televisão ou navegando na internet. Ele quis correr, ir atrás da bicicleta por toda a cidade, gritando, pulando, pedindo por um ingresso, talvez conseguisse algum para a Roda-gigante, para o tromba-tromba ou, quem sabe, para o Carrossel. Não foi; permaneceu imóvel sobre a calçada, apenas olhando o menino que passava montado numa bicicleta velha, com um som rouco, avisando: “O parque está na cidade”.
As lembranças vieram em sua mente, como almas surgidas de antigamente. Duas coisas chamavam a sua atenção: o parque e o circo. Não raramente, corria atrás dos carros, gritando e pedindo ingressos. Era uma semana todinha de expectativa, de alegria, de encantamento. Nos últimos dias (quando era mais barato) o pai dava o dinheiro e a mãe o levava e uma felicidade incomensurável tomava o seu peito.
O parque era o melhor lugar para brincar; o circo era onde se extravasava todas as expectativas da semana. Muitas vezes, junto de ambos, vinham também ciganos. Alguns eram ricos e usavam roupas bonitas e pomposas; outros eram bastante pobres e andavam pelas ruas pedindo algo para comer. Os pais, precavidos que eram, punham logo os filhos pra dentro, receosos que algum daqueles pudessem levá-los.
Um dia, quando a ciganada adentrava os limites da cidade, o menino correu para se esconder e deixou o portão de casa aberta. Uma cigana entrou, pediu o de comer e, enquanto a mãe punha um prato cheio para a visita inesperada, aquela enchia os bolsos com os talheres que estavam ao seu lado. O menino não disse nada, mas as lembranças permaneceram em sua mente.
O menino, com sua bicicleta, virou a rua; foi acordar outros meninos adormecidos. Aquele não adormeceu, sentou-se de frente o computador e, cheio de saudades, escreveu esta crônica.


Coração de Jesus