MENINO NO PARQUE
A notícia vem pelo som que um menino trás em sua bicicleta: “O parque está na cidade!” Não, não tinha nenhuma criança correndo atrás do som, também não havia qualquer criança nas calçadas com os olhos brilhando porque iria brincar no parquinho à noite, levado pelas mãos calejadas da sua mãe.
Apenas um menino observava aquela cena – os outros deveriam estar dentro de casa, assistindo televisão ou navegando na internet. Ele quis correr, ir atrás da bicicleta por toda a cidade, gritando, pulando, pedindo por um ingresso, talvez conseguisse algum para a Roda-gigante, para o tromba-tromba ou, quem sabe, para o Carrossel. Não foi; permaneceu imóvel sobre a calçada, apenas olhando o menino que passava montado numa bicicleta velha, com um som rouco, avisando: “O parque está na cidade”.
As lembranças vieram em sua mente, como almas surgidas de antigamente. Duas coisas chamavam a sua atenção: o parque e o circo. Não raramente, corria atrás dos carros, gritando e pedindo ingressos. Era uma semana todinha de expectativa, de alegria, de encantamento. Nos últimos dias (quando era mais barato) o pai dava o dinheiro e a mãe o levava e uma felicidade incomensurável tomava o seu peito.
O parque era o melhor lugar para brincar; o circo era onde se extravasava todas as expectativas da semana. Muitas vezes, junto de ambos, vinham também ciganos. Alguns eram ricos e usavam roupas bonitas e pomposas; outros eram bastante pobres e andavam pelas ruas pedindo algo para comer. Os pais, precavidos que eram, punham logo os filhos pra dentro, receosos que algum daqueles pudessem levá-los.
Um dia, quando a ciganada adentrava os limites da cidade, o menino correu para se esconder e deixou o portão de casa aberta. Uma cigana entrou, pediu o de comer e, enquanto a mãe punha um prato cheio para a visita inesperada, aquela enchia os bolsos com os talheres que estavam ao seu lado. O menino não disse nada, mas as lembranças permaneceram em sua mente.
O menino, com sua bicicleta, virou a rua; foi acordar outros meninos adormecidos. Aquele não adormeceu, sentou-se de frente o computador e, cheio de saudades, escreveu esta crônica.
Coração de Jesus
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