sábado, 29 de maio de 2010

A MENINA

A MENINA


Não era uma menina bonita, também não era simpática. Era, de fato, uma menina comum. Não tinha ainda seus quinze anos, também não teria menos que doze, treze ou catorze anos.Não tinha os olhos azuis, nem verdes, nem muito pretos, eram uns olhos tomados por uma cor estranha, olhos que chamavam a atenção de qualquer transeunte pelo que não eram e não pelo que poderiam ser. Era uma menina simples, que não tinha nada de diferente ou que chamasse atenção... Minto. Seus olhos chamavam pelo que não eram. Tinha também um pequeno acessório. Usava-o na cabeça. Tratava-se de um pequeno capuz vermelho que usava para tampar o feio cabelo que trazia desarrumado sobre a cabeça. Seu nome - o da menina- era Chapeuzinho Avermelhado.
Na verdade, pra ser bem mais franco do que o necessário, o seu nome era Tosvaldina, mas convenhamos... Isso lá é nome que se ponha numa menina. Que se chamasse Marieta, Luzia, Helena, Beatriz, Solange... Mas, Tosvaldina não! Pois bem, Tó, ou Chapeuzinho Avermelhado, fazia jus ao nome. Era uma menina chata que só vivia às turras com sua mãe, uma velha senhora, que o mundo tratara de ensinar muitas coisas. Sua vida, até algum tempo depois do casamento, era uma verdadeira bagunça: mexera por muito tempo com drogas, bebia, fumava e trepava todos os dias. Perdoem-me os puritanos, mas, de verdade, mulheres fazem Amor, a mãe de Tosvaldina trepava. Fazia-o não porque sentia prazer, mas porque precisava sempre de mais dinheiro para comprar as suas drogas.
Tosvaldina, certa noite, após uma briga horrenda com sua mãe, resolveu fugir de casa e ir para a casa de sua avó. A mãe de Chapeuzinho saiu primeiro, foi à igreja fazer promessa para que a filha parasse de brigar com ela e, por qualquer motivo, espancá-la. A vida tinha mesmo ensinado à mãe de Tó como deveria ser a vida de um ser humano: era de casa para a igreja e da igreja para casa, virara uma mulher direita. Chapeuzinho, por seu lado, era uma criatura sem qualquer juízo. O pai fugira no mundo e nunca mais dera as caras; também, não fazia a mínima falta, era um cachaceiro sem- vergonha.
Chapeuzinho Avermelhado saiu de casa, enquanto a mãe rezava e pedia perdão pelos seus pecados. Não deixou nenhum bilhete, nem recado, nem um sinal de fogo ou fumaça, apenas foi-se para não se sabe onde. Não se sabe mesmo, pois, pensara em ir para a casa da avó, uma velhinha, dona de uma casa de acompanhantes afastada cerca de meia légua da cidade, no entanto, chapeuzinho nunca chegara em sua casa. A mãe não tivera qualquer notícia da filha, a avó também não ficara sabendo do seu paradeiro.
Na pequena cidade, onde todo mundo conhece um muito da vida de cada um, alguns dizem que ela foi comida pelo lobo mau, um animal feroz que vivia assustando as menininhas do lugar; outros afirmam de pés-juntos que ela achara um vagabundo qualquer e fora embora para bem longe dali. Há ainda aqueles que têm certeza de que o "coisa ruim" veio, pegou-a pelo chapéu e levou-a para as profundezas do inferno. A mãe dela, porém, reza todos os dias para que, onde Tosvaldina estiver, que esteja feliz e a tenha perdoado de todos os pecados que cometera. E,todos os dias, na mesma hora em que a filha fora embora de casa, a mãe de Tosvaldina chora as mesmas lágrimas, lágrimas de uma mãe triste e solitária.
Um abraço do poeta.

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