COISAS MUNDANAS
Era uma vez...Toda história fantástica começa com esta expressão, no entanto, esta não é fantástica. Trata-se de uma mulher, talvez seu nome fosse Maria, Joana ou Lúcia. Morava num lugar distante, não tão distante que não se pudesse chegar. Não era casada, nem conhecera o corpo de um homem. Aquela era uma mulher casta, morava sozinha em sua casa, no meio do nada. Não tinha bichos para criar, não tinha nem um amigo imaginário, era realmente uma mulher sozinha no mundo.
Aquela mulher ia à cidade apenas uma vez ao mês. Nesse dia, pegava o dinheirinho mirrado da aposentadoria, comprava a feira do mês todo, dava uma passadinha na igreja, rezava por são Judas Tadeu (ela só conhecia esse santo) e, depois de realizadas essas tarefas, ia embora, a pé, sozinha, até sua casa. Não tinha medo, não sabia o que era esse sentimento. Ela recebia apenas um salário, gastava bem menos da metade e o que sobrava deixava guardado debaixo do colchão em que dormia.
Um dia, após fazer todo o trajeto que estava acostumada, aquela mulher ia embora para a sua casa. Na estrada um homem veio acompanhando. Não teve medo, talvez nem tivesse prestado atenção naquele homem que a seguia. Toda a população da pequena cidade vira aquela cena, não se preocuparam, não fizeram conta daquele fato. No outro dia, os principais jornais da região apresentavam em letras garrafais, na primeira página:
"Mulher, de aproximadamente, é encontrada morta em matagal próximo à pequena cidade. Segundo a polícia local, aparentemente fora estuprada e o bandido, ou bandidos, invadiu a sua casa e levou todo o dinheiro que a mesma guardava debaixo do colchão, aproximadamente 3.000 reais". A mulher nunca houvera sentido o corpo de um homem junto ao seu, morava sozinha e não se importava com coisas materiais.
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