Naquele tempo é que era chuva! As águas caíam sem dó nem piedade, mesmo. Não tinha problema, brincávamos na chuva. Nessa época, a porta de minha casa já era asfaltada, então íamos brincar na rua de baixo. Um bando de moleques correndo atrás de uma bola.
No início era bola de meia, quando tinha meia, se não valia bola de plástico mesmo, pegava-se um punhado de plásticos velhos e, como num passe de mágica, eis uma bola! Não, não pegávamos resfriado. Não me lembro de qualquer gripezinha por causa dos jogos sob a chuva... Pra falar a verdade, não me lembro de doenças durante a infância. A não ser algumas arrancadas da cabeça do dedão do pé – mas isso era a prova de que jogávamos bola na rua...
As brigas eram inevitáveis, mas eram brigas de meninos: um empurrava de cá, outro revidava de lá, até que um mais vantajoso vinha e dava o sinal:
- quem for mais homem, cospe aqui! – O mais adiantado dava a cusparada e a zorra estava armada. No outro dia, estávamos todos lá, brincando de bola de novo.
Não tinha esse negócio de tênis, o pezão ia de encontro ao chão, sentindo a terra molhada dos dias de chuva ou o ardor encardido de um dia de sol. Os pés eram cascudos, rachados, sujos, mas eram pés de jogadores, pés pequenos de grandes homens que se criavam correndo atrás de uma bola.
Não, não saiu nenhum grande futebolista daqueles jogos, nem doutores ou políticos. Na verdade, ninguém saiu. Até hoje, quem passar por aquela rua numa tarde de chuva, se ficar quietinho escutando, é capaz de escutar os gritos daqueles moleques e a harmonia dengosa da bola correndo pelo asfalto. Quicando, quicando...
CORAÇÃO DE JESUS 23/02/2010
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