A GUERRA E AS MÃES
@ElismarSantos
A pátria precisava de novos recrutas,
homens capazes de matar ou morrer pela felicidade geral da nação. Por isso, ele
foi. Inscreveu-se contra a vontade da mãe; o pai era o seu único incentivador.
A namorada fora deixada para trás; também deixara os amigos, as noites de
farra, os sonhos da medicina e o futebol nos finais de semana. Seria um
voluntário; para a mãe um visionário.
Passara muito tempo dentro do quartel;
aprendera táticas de guerra sonhara com as balas de sua metralhadora perfurando
os corpos inimigos nas grandes batalhas na defesa do seu país; sofrera momentos
de provações e humilhações. Tornara-se num verdadeiro guerreiro. Guerreiro de
treinamento, é bem verdade; mas um GUERREIRO DE VERDADE.
Todos os dias ligava para o pai.
Ficavam horas a conversar. Falava sobre o treinamento, sobre o sofrimento e o
prazer que sentia com isso. Afirmava não ter medo de sangue, nem do inimigo e,
acreditem, nem mesmo da morte. Confessava a vontade de ir à guerra; lutar pela nação,
tornar-se num herói. E os olhos do pai enchiam-se de lágrimas, de felicidade,
claro! Enquanto a mãe chorava a um cantinho da cozinha.
Seu desejo foi realizado. Sexta-feira
passada, numa manhã de cara emburrada, viajara com o resto do pelotão para a
fronteira norte do país, onde enfrentariam uma facção rebelde que planeja
derrubar a presidente e transformar a república em Monarquia, voltando aos
tempos de D.Pe dro. Fora feliz, carregando na bolsa, uma
velha foto dos pais e um terço abençoado pelo pároco do quartel.
Faz já uma semana que partira. Não
mandara notícias, nem cartas ou telefonemas. O pai se enche de orgulho ao falar
da coragem e do patriotismo do seu único filho. No cantinho da cozinha,
enquanto chora copiosamente, a pobre mãe sente, do fundo de sua alma, que nunca
mais há de vê-lo novamente.
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