PLANOS
@ElismarSantos
Os homens descem para o
centro. Vão esperar o ônibus, fumar seus cigarros, conversar fiado até que a
hora chegue. Daí irão para o trabalho e trabalhão até o fim do dia. A mesma
vida de sempre, o mesmo emprego, a mesma ladainha todos os dias.
Da janela, enquanto
brinca com um carrinho de madeira, um menininho olha aquela cena, e pensa, um
dia fará todo aquele trajeto, fumará daqueles mesmos cigarros, conversará as
mesmas conversas fiadas, pegará o mesmo ônibus e seguirá para o trabalho.
Uma lágrima desce pela
sua face. Não quer aquela vida para si. Quer ser doutor, um grande médico,
salvar vidas, fazer caridade, cumprir plantões e ganhar um milhão de dinheiro.
Tudo aquilo era o seu sonho; um sonho de criança, sem maldade, sem sapiência,
sem qualquer conhecimento.
Lá na cozinha, a mãe
prepara um bolo gostoso e sonha com o dia em que seu filho vestirá a batina e
rezará toda a missa em
Latim. Ela, com fé e emoção, haverá de sentar-se na primeira
fileira e será a primeira a receber a sua primeira hóstia.
Enquanto isso, na
varanda da frente, uma menininha saliente, observa a brincadeira da pobre
criança e sonha em desfazer todos os planos da mãe do garotinho. Ela não pensa
em casamento; apenas em diversão, somente diversão.
Pobre menino, jogado
aos sonhos, aos pensamentos, aos planos alheios. Tudo isso enquanto os homens
descem a rua contando casos de muito tempo atrás, quando tudo era bem melhor
que hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário