quarta-feira, 2 de maio de 2012

PLANOS


PLANOS


@ElismarSantos


Os homens descem para o centro. Vão esperar o ônibus, fumar seus cigarros, conversar fiado até que a hora chegue. Daí irão para o trabalho e trabalhão até o fim do dia. A mesma vida de sempre, o mesmo emprego, a mesma ladainha todos os dias.
Da janela, enquanto brinca com um carrinho de madeira, um menininho olha aquela cena, e pensa, um dia fará todo aquele trajeto, fumará daqueles mesmos cigarros, conversará as mesmas conversas fiadas, pegará o mesmo ônibus e seguirá para o trabalho.
Uma lágrima desce pela sua face. Não quer aquela vida para si. Quer ser doutor, um grande médico, salvar vidas, fazer caridade, cumprir plantões e ganhar um milhão de dinheiro. Tudo aquilo era o seu sonho; um sonho de criança, sem maldade, sem sapiência, sem qualquer conhecimento.
Lá na cozinha, a mãe prepara um bolo gostoso e sonha com o dia em que seu filho vestirá a batina e rezará toda a missa em Latim. Ela, com fé e emoção, haverá de sentar-se na primeira fileira e será a primeira a receber a sua primeira hóstia.
Enquanto isso, na varanda da frente, uma menininha saliente, observa a brincadeira da pobre criança e sonha em desfazer todos os planos da mãe do garotinho. Ela não pensa em casamento; apenas em diversão, somente diversão.
Pobre menino, jogado aos sonhos, aos pensamentos, aos planos alheios. Tudo isso enquanto os homens descem a rua contando casos de muito tempo atrás, quando tudo era bem melhor que hoje.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário