domingo, 18 de abril de 2010

A MENINA E O TEMPO

A MENINA E O TEMPO

ELISMAR SANTOS

Ela era uma menina bonita, apenas isso. Não tinha nenhuma qualidade especial; não sabia fazer nada que chamasse a atenção; enfim, era uma pessoa comum. Mas tinha alguma coisa que atraía.
Não sei bem o que era, mas tinha. Sempre que ela passava pela rua, olhávamos indiscretamente, observávamos o seu caminhar, o seu rebolado, os cabelos dançando no espaço vazio como se fosse uma bailarina no meio de um espetáculo.
Não havia espetáculo. Era somente ela que passava, com seu corpinho magro, suas pernas secas e seus seios pequenos. Talvez fosse isso que chamasse a nossa atenção: a sua falta de atrativos. Era apenas uma menina bonita, mas era uma menina, e isso nos bastava.
Nunca tivemos coragem de nos aproximar. Olhávamos apenas, sentados às mesas ou nas calçadas dos botecos, enquanto ela passava sem dar-nos a mínima. Não, ela não era burguesinha, não era prosa, nem cheia de meneios, era apenas uma menina; uma menina com o quê de menina que todas elas têm.
Um dia fui embora. Viajei por vários lugares; sentei em várias mesas e calçadas de botecos, talvez à procura daquela menina, mas nunca a encontrei. Voltei, depois de muito tempo, talvez na espera de reencontrá-la. Lembrava-me sempre daquela menina sem atrativo que passava de frente aqueles homens bêbados com seu quê de menina e seus cabelos bailarinos.
A cidade estava como antes, a não ser pela profunda tristeza que pairava no ar. Fiquei por vários dias ali, sentado de frente o boteco, talvez a sua espera. Ela não passou. Com o coração abatido, perguntei ao dono do boteco por ela. No que ele me disse, contrito, que ela havia morrido. O que havia agora era uma mulher. Não uma mulher feia, mas desgastada pelo tempo, sem a juventude que embeleza a todos nós.
Tristemente, tomei meu último gole. Preparava-me para sair quando de frente ao boteco uma senhora passava arrastando dois moleques, um em cada mão segurado. Não tinha a beleza de antes, mas os cabelos dançavam como se fosse uma bailarina em meio a um eterno espetáculo.




Um abraço do poeta!


Coração de Jesus, 04/ 04/ 2010.

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