Os carros passando rápido; pessoas correndo de um lado para outro; mães arrastando crianças pela mão; um homem gritando "Olha o geladinho, barato bem baratinho!"; um guarda passando com as mãos coladas às costas; um senhor sentado junto à murada do prédio fumando o seu cigarro, olhando a vida passar...
Tinha certeza, fazia velho naquela tarde sem sol. Nuvens acinzentadas passavam para lá e para cá, como que ziguezagueando. Um avião passou fazendo caminho em meio às nuvens. Tinha realmente a certeza de que fazia velho naquela tarde. E não era aquele recostado à murada fumando um cigarro. O cafezinho esfriando em sua xícara, enquanto olhava tudo aquilo pela janela do escritório.
Podia imaginar: o chefe reclamando os papeis que voltaram; os filhos chorando a falta do leite e do pão; o presidente repetindo sempre a mesma ladainha de que o país navega em águas calmas à bom bordo; a mulher com os cabelos enrolados nos bobes e uma meia velha a cobri-los; os carros passando em alta velocidade.
Um passarinho apareceu junto à janela. Bateu com bico três vezes. As nuvens em contínuo ziguezague, causando-lhe um enjoo quase imperceptível. E o velho junto à murada fumando o seu cigarro, olhando a vida, os carros, as pessoas eo friozinho que sopra para lá e para cá.
Abriu a janela. Lembrou-se de tudo, de todos.Sentiu saudades, raiva, amor, compaixão, tédio, ódio, dor. O passarinho tinha as penas ouriçadas e cantava uma canção bonita. E ambos foram pelo infinito até desparacerem por entre as nuvens.
Encostado junto à murada, o velho viu, mas ninguém haveria de acreditá-lo.
Elismar Santos Coração de jesus 11/07/2011
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