MEDO E ESPERANÇA
A uma de suas Crônicas, no livro "Escritos na água", Alcione Araújo intitula "Medo e Esperança". Ainda não a li, mas apenas pelo título já me vejo interessado. Às vezes nos encontramos predispostos a nos identificar facilmente com palavras que nos levem ao fundo da alma; assim como no referido título. Talvez isso aconteça por sermos demasiadamente sinceros ou, ainda, por estarmos em uma situação em que somente a esperança e o medo sejam capazes de nos manter em linha reta.
Drummond é um dos poetas sempre prontos a apregoarem a importância de se cultivar a esperança, embora em muitas e diversas situações, facilmente, seja capaz demonstrar o medo que sente. Fernando Sabino se apresenta como outro esperançoso, apesar de deixar transparecer os medos que muito pouco lhe faz presença. De certa forma, nunca seríamos capazes de carregar em nossas palavras, quiçá em nossa alma, apenas um destes inseparáveis sentimentos, simplesmente pelo fato de sê-los, imponderavelmente, inseparáveis.
Separamos o joio do trigo; o óleo da água; mas, indistintamente, talvez nunca haveremos de separar o medo da esperança. Temos, sim, o medo de arriscar, de correr atrás, de criar novas situações, mas cultivamos a eterna esperança de que um dia, ainda que próximo ou longínquo, tudo possa dar certo. E essa esperança, dosada pelo receio de ilusão, que nos faz seguir em frente e tentar, ainda que com cautela e canja de galinha.
Na rua, enquanto o sol se põe e a lua dá o ar de sua graça, alguns moleques brincam de bola. Certamente, existe naquela brincadeira a esperança de que um gol venha a ser a salvação da lavoura, no entanto, no peito arfante de cada um crepita o receio de uma falha do goleiro, ou uma bola respingada na área, ponha tudo a perder. Por isso, enquanto escrevo estas, a partida se arrasta em zero, mas sem tempo determinado para chegar ao seu final.
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