As águas do Paranoá corriam mansas de um lado para outro. Talvez por não ter aonde ir, ficavam alí, eternamente, dando voltas, indo de um ponto a outro do lago. Os barcos eram os únicos que cortavam suas entranhas, de forma frenética, em alta velocidade, sem qualquer carinho, sem nenhuma sensibilidade. Foi quando, de repente, ele chegou.
Sentou-se às suas margens e pôs-se a pensar. Talvez pensasse na cidade da qual partira ou, quiçá, na vida que levava nesta nova plaga. Era casado, podia-se ver pelo anel dourado em seu dedo. Tinha a cara cansada e o corpo curvo. Não era velho, antes, era um homem de meia-idade, com o aspecto triste, comum àqueles desprovidos de sonhos.
De início, não se importou com aquele, era apenas mais um que vinha afogar as mágoas de frente a si. Ficou alí, parado a olhar o ensimesmado indivíduo às suas margens. As águas pararam de movimentar-se e o que se ouviu foi apenas o silêncio daquele fim de tarde. Antes fizera um ventinho dengoso, mas agora cessara; sobraram apenas o homem triste, o lago com suas águas estáticas e o silêncio melancólico da tarde. E uma paixão dormente tomou conta do rio.
O tristonho indivíduo oltou um suspiro profundo, como se rebuscasse no fundo da alma a mais triste de todas as lembranças. O rio não disse nada, nem as águas fizeram qualquer movimento. Apenas o homem levantou-se e, lentamente, foi entrando nas entranhas do Paranoá. Não se ouviu qualquer canção de amor; apenas as águas foram abraçando o seu novo namorado, carinhosamente, como se aquele fosse o seu maior prazer. E, depois, sem qualquer sinal de pudor, a vida voltou a correr freneticamente.
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