SUFOCO
Levantou-se e vestiu a roupa. Sentia-se estranho; o corpo dolorido; a cabeça rodando. Não sabia onde estava, quem era, por que estava ali. Melhor parar sentar, um pouco e esperar; com o tempo certamente haveria de se lembrar.
As ideias iam se clareando. Lembrara-se do nome, que havia brigado com a esposa na noite anterior, por causa de uma bobagem, coisa à toa, que saíra enraivecido, entrara em um bar e... O resto não se lembrava. A não ser da primeira dose. O resto eram apenas divagações.
Deitada sobre a cama, uma mulher. Não era a sua esposa; nem a conhecia. Talvez fosse uma prostituta, uma mulher da rua. Não tinha ideia do que estivera fazendo naquele quarto... Mentira! Tinha uma leve impressão do que havia feito: uma grande besteira!
E agora? Como voltar para casa; o que dizer; o que fazer? Melhor não voltar. Poderia arrumar um outro destino; ir para a casa de um amigo; para a casa dos pais; para a casa de Lucília... Não; para a casa de Lucília não!
Não seria aquela a Lucília?!... Tirou o lençol que cobria o seu rosto e... Ufa! Não era ela... Mas, a mulher estava morta! E agora? Não sabia o que fazer. Talvez fugir; entregar-se; suicidar-se!... Nunca tinha pensado nisso. Mas não teria coragem...
Alguém bate na porta. Primeiro com delicadeza, pausadamente; depois, irritado, com socos, bates horríveis, assustadores!... Sobre o criado-mudo tem um revólver... É sua única salvação. Pega-o... Já estão quase arrebentando a porta... Arma-o, põe sobre o peito e atira!
O despertador toca desesperadamente. Acorda! A mulher aparece junto à porta; vem ao seu encontro e lhe dá um beijo demorado. Levanta-se e toma um banho. Toma o café e vai para o serviço. Todo o dia é tranqüilo; mas uma terrível dor no peito o acompanha o tempo todo.
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