quinta-feira, 29 de julho de 2010
MENINO NO PARQUE
MENINO NO PARQUE
A notícia vem pelo som que um menino trás em sua bicicleta: “O parque está na cidade!” Não, não tinha nenhuma criança correndo atrás do som, também não havia qualquer criança nas calçadas com os olhos brilhando porque iria brincar no parquinho à noite, levado pelas mãos calejadas da sua mãe.
Apenas um menino observava aquela cena – os outros deveriam estar dentro de casa, assistindo televisão ou navegando na internet. Ele quis correr, ir atrás da bicicleta por toda a cidade, gritando, pulando, pedindo por um ingresso, talvez conseguisse algum para a Roda-gigante, para o tromba-tromba ou, quem sabe, para o Carrossel. Não foi; permaneceu imóvel sobre a calçada, apenas olhando o menino que passava montado numa bicicleta velha, com um som rouco, avisando: “O parque está na cidade”.
As lembranças vieram em sua mente, como almas surgidas de antigamente. Duas coisas chamavam a sua atenção: o parque e o circo. Não raramente, corria atrás dos carros, gritando e pedindo ingressos. Era uma semana todinha de expectativa, de alegria, de encantamento. Nos últimos dias (quando era mais barato) o pai dava o dinheiro e a mãe o levava e uma felicidade incomensurável tomava o seu peito.
O parque era o melhor lugar para brincar; o circo era onde se extravasava todas as expectativas da semana. Muitas vezes, junto de ambos, vinham também ciganos. Alguns eram ricos e usavam roupas bonitas e pomposas; outros eram bastante pobres e andavam pelas ruas pedindo algo para comer. Os pais, precavidos que eram, punham logo os filhos pra dentro, receosos que algum daqueles pudessem levá-los.
Um dia, quando a ciganada adentrava os limites da cidade, o menino correu para se esconder e deixou o portão de casa aberta. Uma cigana entrou, pediu o de comer e, enquanto a mãe punha um prato cheio para a visita inesperada, aquela enchia os bolsos com os talheres que estavam ao seu lado. O menino não disse nada, mas as lembranças permaneceram em sua mente.
O menino, com sua bicicleta, virou a rua; foi acordar outros meninos adormecidos. Aquele não adormeceu, sentou-se de frente o computador e, cheio de saudades, escreveu esta crônica.
Coração de Jesus, 29 / 07/ 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
NO TWITTER
Sempre estivera acostumado a escrever textos longos. Nos tempos de faculdade, escrevia Artigos, Projetos, Monografias; depois, vieram as Crônicas, os Contos e, por fim os Romances. Sentia-se bem naquele mundo, gostava de escrever, sentar-se de frente a maquina e travar o costumeiro embate com as palavras.
Começara escrevendo pequenos, e mal feitos, poemas nos cadernos escolares, logo passara à maquina e, junto dela, veio o seu progresso: o jornalzinho da escola em que estudava, depois, o jornalzinho da faculdade de Letras, já na Universidade. Daí para as páginas de um jornal mediano apenas um passo.
Nunca passara do jornal mediano para o qual escrevia. Achava-se em seu lugar, tinha medo do grande público, por isso, melhor se contentar com o pequeno espaço que preenchia duas vezes por semana. Não tinha maiores sonhos, tirava um ordenado que, juntamente com o que ganhava nas aulas de Redação num cursinho pré-vestibular, lhe permitia gozar uma vidinha confortável, sem muitos exageros.
O tempo é o maior e mais temível inimigo dos pequenos escritores. Com ele veio o progresso. O advento do computador ocasionou o ostracismo e, por fim, o aposento da velha máquina de escrever; rapidamente criaram a internet, os sites, e-mails, os blogs e, o fim: os microblogs.
De início, vira-se obrigado a aprender manusear um computador, acostumara-se. Adaptara, também, aos sites, e-mails e aos blogs, afinal, o mediano jornal para o qual escrevia aderira ao uso de todas estas tecnologias, havia se tornado grande. Os funcionários, por sua vez, foram obrigados a aderirem à nova onda tecnológica.
O microblog não. Até ali não tinha reclamado. Mas isso não aceitava, não diminuiria uma linha dos seus textos. Aonde já se viu, sintetizar o texto ao ponto de se parecer com uma sardinha enlatada; isso não!
Ele não havia se dado conta, mas toda a sua vida estava mudada. Um dia, sentara-se à maquina de escrever e chegara à fatídica conclusão: estava ultrapassado. O jornal não era mais tão romântico como antigamente; escrever já não era mais um ato de prazer, sempre ganhara o seu dinheirinho com seus escritos, mas não o fazia por necessidade, era um prazer diário de sentar-se junto à maquina, inserir-lhe, cuidadosamente,o papel e pôr-se a labutar as palavras. Tudo agora era uma corrida contra o tempo, as pessoas não tinham tempo para grandes leituras e não havia mais a sensação de dever cumprido ao se fazer um texto perfeito, o mundo se modernizara e havia, por isso, profissionalizado.
Era uma manhã acinzentada. Fora, fazia um friozinho típico de julho. Contrariando seus hábitos, não foi ao Jornal; abriu seu notebook, acessou a sua conta no Twitter e, cuidadoso com o pequeno número de palavras, postou sua última crônica. Desligou o computador, vestiu seu casaco e saiu porta a fora. Nunca mais se teve notícias suas, desapareceu em meio à modernidade.
Coração de Jesus 27/ 07/ 2010
domingo, 25 de julho de 2010
UMA VELHA SENHORA
UMA VELHA SENHORA
Era uma senhora triste. Os cabelos tão alvos como uns algodoais. Não sabia nem mais quantas primaveras havia vivido; no entanto, estava convicta de que as tinha vivido da melhor maneira possível. Não pensava em morrer, mas aceitava que se ela viesse, quando viesse, seria muito bem recebida.
Um dia perguntaram a pobre velhinha sobre o que a fazia viver com tanta felicidade e, sobretudo, com tamanha intensidade. A velha, escondida sob o seu velho cachecol, não se atreveu nem mesmo a sorrir; timidamente falou: "Não sei responder a tão difícil pergunta, sei apenas que fui vivendo cada um dos momentos que foram surgindo a minha frente".
Um senhor de meia-idade, que se encontrava ali por perto, pôs-se a chorar. Vieram lhe perguntar pelo motivo daquele pranto. Ele respondeu que havia se emocionado com a alegria que aquela pobre velhinha demonstrava diante de uma vida tão longa e de um futuro tão curto, enquanto ele, na metade do caminho ainda não tinha vivido nem um instante do que poderia e com uma vida tão longa pela frente, não sabia nem ao menos aonde ir.
Sejamos como a velhinha: vivamos um momento de cada vez.
domingo, 4 de julho de 2010
UM FÚTIL AMOR
Apenas um sorriso
e nada mais.
Isso foi a última coisa
que ele havia pedido;
incrédula
e cheia de malemolências
ela nem lhe deu atenção.
Virou-se abruptamente
como se ninguém lhe
houvesse dito algo
e partiu.
E nunca mais
em dia algum
se teve notícia
daquele fútil amor.
Coração de Jesus 04-07-2010
e nada mais.
Isso foi a última coisa
que ele havia pedido;
incrédula
e cheia de malemolências
ela nem lhe deu atenção.
Virou-se abruptamente
como se ninguém lhe
houvesse dito algo
e partiu.
E nunca mais
em dia algum
se teve notícia
daquele fútil amor.
Coração de Jesus 04-07-2010
sábado, 3 de julho de 2010
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