quarta-feira, 28 de julho de 2010
NO TWITTER
Sempre estivera acostumado a escrever textos longos. Nos tempos de faculdade, escrevia Artigos, Projetos, Monografias; depois, vieram as Crônicas, os Contos e, por fim os Romances. Sentia-se bem naquele mundo, gostava de escrever, sentar-se de frente a maquina e travar o costumeiro embate com as palavras.
Começara escrevendo pequenos, e mal feitos, poemas nos cadernos escolares, logo passara à maquina e, junto dela, veio o seu progresso: o jornalzinho da escola em que estudava, depois, o jornalzinho da faculdade de Letras, já na Universidade. Daí para as páginas de um jornal mediano apenas um passo.
Nunca passara do jornal mediano para o qual escrevia. Achava-se em seu lugar, tinha medo do grande público, por isso, melhor se contentar com o pequeno espaço que preenchia duas vezes por semana. Não tinha maiores sonhos, tirava um ordenado que, juntamente com o que ganhava nas aulas de Redação num cursinho pré-vestibular, lhe permitia gozar uma vidinha confortável, sem muitos exageros.
O tempo é o maior e mais temível inimigo dos pequenos escritores. Com ele veio o progresso. O advento do computador ocasionou o ostracismo e, por fim, o aposento da velha máquina de escrever; rapidamente criaram a internet, os sites, e-mails, os blogs e, o fim: os microblogs.
De início, vira-se obrigado a aprender manusear um computador, acostumara-se. Adaptara, também, aos sites, e-mails e aos blogs, afinal, o mediano jornal para o qual escrevia aderira ao uso de todas estas tecnologias, havia se tornado grande. Os funcionários, por sua vez, foram obrigados a aderirem à nova onda tecnológica.
O microblog não. Até ali não tinha reclamado. Mas isso não aceitava, não diminuiria uma linha dos seus textos. Aonde já se viu, sintetizar o texto ao ponto de se parecer com uma sardinha enlatada; isso não!
Ele não havia se dado conta, mas toda a sua vida estava mudada. Um dia, sentara-se à maquina de escrever e chegara à fatídica conclusão: estava ultrapassado. O jornal não era mais tão romântico como antigamente; escrever já não era mais um ato de prazer, sempre ganhara o seu dinheirinho com seus escritos, mas não o fazia por necessidade, era um prazer diário de sentar-se junto à maquina, inserir-lhe, cuidadosamente,o papel e pôr-se a labutar as palavras. Tudo agora era uma corrida contra o tempo, as pessoas não tinham tempo para grandes leituras e não havia mais a sensação de dever cumprido ao se fazer um texto perfeito, o mundo se modernizara e havia, por isso, profissionalizado.
Era uma manhã acinzentada. Fora, fazia um friozinho típico de julho. Contrariando seus hábitos, não foi ao Jornal; abriu seu notebook, acessou a sua conta no Twitter e, cuidadoso com o pequeno número de palavras, postou sua última crônica. Desligou o computador, vestiu seu casaco e saiu porta a fora. Nunca mais se teve notícias suas, desapareceu em meio à modernidade.
Coração de Jesus 27/ 07/ 2010
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