ASSALTO
À porta do banco, ele olhava apavorado
para os lados.
- Bom dia, senhor. Somos do banco X e
estamos com ótimas condições para servidores públicos, aposentados e
pensionistas. Caso o senhor estiver interessado, nós poderemos estar olhando a
margem para o senhor!
Não. Não queria empréstimo algum. Além
do mais não era funcionário público; faltava-lhe muito para a aposentadoria e
não recebia qualquer pensão. Estava mesmo cansado, desesperado, desnorteado;
acabara de ser assaltado.
- Mas, senhor, o nosso banco tem
empréstimos bastante interessantes. O senhor não quer mesmo que a gente esteja
olhando a margem? Nós poderemos estar descontando o pagamento em folha e, o
mais importante, mesmo que o nome do senhor esteja sujo nós estaremos fazendo o
seu empréstimo. Não consultamos o SPC nem o SERASA.
Ele tentava não escutá-la. Estava
ainda anestesiado pelo crime que acabara de sofrer; mas não agüentava aquela
enxurrada de gerundismos em seu ouvido. Por fim, desabafou:
- Minha filha, por favor, eu não quero
dinheiro algum, a não ser o que me foi roubado há pouco. Acabei de ser
assaltado e você ainda vem me falar de empréstimo!
Ela não se deu por vencida:
- É verdade, senhor! Alguns descontos
são um verdadeiro roubo. Mas em nosso banco, o senhor pode ficar despreocupado;
não vamos estar roubando o senhor, pelo contrário, vamos estar colaborando. Se
for o caso, poderemos estar, também, refinanciando a sua dívida com o outro
banco!
Não agüentava mais. Quis correr, fugir
daquela mulher e seu português mecânico. Já lhe havia dito que não queria
empréstimo algum, mas ela insistia. Não tinha forças; as pernas estavam
trêmulas e o coração ainda estava quase a lhe sair pela boca.
- Senhor, vamos estar entrando dentro
da agência. Assim nós poderemos estar explicando para o senhor as vantagens de
estar adquirindo um dos nossos empréstimos! Vamos lá?!
Pensou recuar, mas já era tarde.
Aquela moça lhe puxara com todas as forças que possuía, jogara-lhe numa
poltrona macia e com um sorriso encantador saltando dos seus grossos lábios,
deixara-o a espera de outra atendente. Saíra apressada, em busca de outro
cliente.
Fizera um empréstimo, embora não
precisa. Sofrera outro excesso de Gerúndios, Particípios e uma infinita
sucessão de contas, feitas rapidamente em uma calculadora, que mal conseguia
entender. Havia sido assaltado novamente; agora, sem qualquer arma de fogo ou
branca, apenas com o uso do gerundismo e da matemática. Saíra atordoado daquele
banco, as pernas ainda trêmula e o coração aos pulos; estava certo de que pior
do que os assaltos que sofrera, foi o sofrido pela língua portuguesa.
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