terça-feira, 6 de setembro de 2011


ASSALTO



À porta do banco, ele olhava apavorado para os lados.
- Bom dia, senhor. Somos do banco X e estamos com ótimas condições para servidores públicos, aposentados e pensionistas. Caso o senhor estiver interessado, nós poderemos estar olhando a margem para o senhor!
Não. Não queria empréstimo algum. Além do mais não era funcionário público; faltava-lhe muito para a aposentadoria e não recebia qualquer pensão. Estava mesmo cansado, desesperado, desnorteado; acabara de ser assaltado.
- Mas, senhor, o nosso banco tem empréstimos bastante interessantes. O senhor não quer mesmo que a gente esteja olhando a margem? Nós poderemos estar descontando o pagamento em folha e, o mais importante, mesmo que o nome do senhor esteja sujo nós estaremos fazendo o seu empréstimo. Não consultamos o SPC nem o SERASA.
Ele tentava não escutá-la. Estava ainda anestesiado pelo crime que acabara de sofrer; mas não agüentava aquela enxurrada de gerundismos em seu ouvido. Por fim, desabafou:
- Minha filha, por favor, eu não quero dinheiro algum, a não ser o que me foi roubado há pouco. Acabei de ser assaltado e você ainda vem me falar de empréstimo!
Ela não se deu por vencida:
- É verdade, senhor! Alguns descontos são um verdadeiro roubo. Mas em nosso banco, o senhor pode ficar despreocupado; não vamos estar roubando o senhor, pelo contrário, vamos estar colaborando. Se for o caso, poderemos estar, também, refinanciando a sua dívida com o outro banco!
Não agüentava mais. Quis correr, fugir daquela mulher e seu português mecânico. Já lhe havia dito que não queria empréstimo algum, mas ela insistia. Não tinha forças; as pernas estavam trêmulas e o coração ainda estava quase a lhe sair pela boca.
- Senhor, vamos estar entrando dentro da agência. Assim nós poderemos estar explicando para o senhor as vantagens de estar adquirindo um dos nossos empréstimos! Vamos lá?!
Pensou recuar, mas já era tarde. Aquela moça lhe puxara com todas as forças que possuía, jogara-lhe numa poltrona macia e com um sorriso encantador saltando dos seus grossos lábios, deixara-o a espera de outra atendente. Saíra apressada, em busca de outro cliente.
Fizera um empréstimo, embora não precisa. Sofrera outro excesso de Gerúndios, Particípios e uma infinita sucessão de contas, feitas rapidamente em uma calculadora, que mal conseguia entender. Havia sido assaltado novamente; agora, sem qualquer arma de fogo ou branca, apenas com o uso do gerundismo e da matemática. Saíra atordoado daquele banco, as pernas ainda trêmula e o coração aos pulos; estava certo de que pior do que os assaltos que sofrera, foi o sofrido pela língua portuguesa.

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