terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O VENDEDOR AMBULANTE

     O Arnaldo ainda não voltou com sua esposa e, para tentar esquecê-la, ou, quem sabe, para chorar suas mágoas, passa boa parte do seu tempo no boteco do Eguimar, sobre um copo de cachaça, jogando sinuca, ou sentado junto à porta, conversando fiado. Quando não está no boteco, o apaixonado vem a minha casa para falar um pouco de sua amada.
     Hoje chegou cedo, mas já com o bafo de cana no bico. Sentou-se no banco, junto à velha mesa de madeira rústica, herança do meu avô; pediu um pouco de café e pôs-se a comer do bolo de fubá que estava sobre a mesa, pois tínhamos acabado de tomar o lanche da manhã. Por um longo tempo não disse nada; ficou quieto, com o olhar distante, como se refletisse algo importante, enquanto mastigava displicente o pedaço de bolo.
    Eis que, de supetão, soltou as ideias:
    - Vou vender roupas! Virarei vendedor ambulante; andarei de cidade em cidade e nunca mais, juro, nunca mais, aquela cadela há de me ver novamente!
    Pensei um pouco.Olhei pausadamente para o semblante do homem. Estava visivelmente triste, a pele enrugada, os olhos cheios de lágrimas. Podia tê-lo tirado a ideia da cabeça, tentado dissuadi-lo daquela loucura. O pobre diabo não sabia vender nem gaiola para passarinho, vê lá se venderia roupas! Não disse nada. Levantei-me; fui até a estante; peguei a garrafa de caninha, tomei um gole e degustei, era da boa. Coloquei uma dose da branquinha e lhe ofereci. A história do vendedor que ficasse pra outra hora!

2 comentários:

  1. hee meu caro ... acho que vou na sua casa qualquer dia desses ai...srsrsrrs

    ResponderExcluir
  2. o que gostei mais foi o café e o bolo de fubá. Renato Cheloni

    ResponderExcluir