segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

DE AMORES E DORES

        O Arnaldo brigou com sua mulher e chegou em casa chorando. Para falar a verdade, até que senti pena do coitado. Sentado no velho banco de madeira, os braços apoiados na mesa pelos cotovelos e o queixo pousado sobre as mãos fechadas, log via-se, estava demasiado triste.
        Não, eu não sabia como agir. Não queria dar motivos. Conheço bem o Arnaldo e sei que se começa a bajulá-lo, logo tomaria conta da casa. Também não poderia agir com rispidez, afinal, o pobre diabo estava sofrendo e, alé do mais, dores de amor são um incômod terrível!
        Fui até a estante. Peguei da que vinha com remédio. Amarela, com cheiro forte e alguns resíduos passeando para lá e para cá. Balancei a garrafa para fim de misturar um pouco. Oferreci:
       - Toma uma comigo, amigão?
       Não disse nada. Nem me olhou. Botei uma grande no copo. A  pinga parecia chamar, pedia que lhe tomasse de um gole só. Por isso tomei-a. Enchi outro copo e já me preparava pra bebê-lo. Quando ele me interrompeu:
       - Essa eu bebo, cumpade. Mas não por causa da cadela. E sim pela nossa amizade!



CORAÇÃO DE JESUS, 16/01/2012

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