Olhando pela janela é possível visualizar a vida passando, com seus pássaros sempre voando para o sul, as mulheres desfilando com seu rebolado saliente, os homens assentados debaixo das árvores sempre a por reparo nas vidas alheias. Assim, tudo passa, lentamente, preguiçosamente, feito não quisesse, mas fosse forçado a fazê-lo.
Vez ou outra o Arnaldo passa em casa. Tem andado meio sumido. Diz estar feliz; ter voltado com a esposa; estar gozando a vida. Pobre Arnaldo, não sabe que a vida é cheia de altos e baixos e que, por isso, logo haverão de brigar novamente. De novo ficará triste. E a branquinha há de salvá-lo dos choros e da tristeza compulsiva.
Ainda ontem os vi, ambos de braços dados. Ela com o cabelo esvoaçado pelo vento; com uma sainha bem curta e os seios a saltarem de um tomara-que-caia, convidativos ao prazer. O Arnaldo me parecia feliz, inocente, feito um menino a cerregar um brinquedinho para casa. Ambos formam um casal bonito. Ela com seus olhos de Capitu, ele com sua cara de Bentinho. Dois opostos que se atraem.
O Arnaldo é gente boa. Sua esposa também é boa. A vida continua passando lentamente, enquanto eu saboreio um imenso pedaço de bolo de fubá com meu café bem quente. Do velho banco, os homens olham o casalzinho que passa, enquanto eu, sentado na varanda, observo a vida e suas contradições... E a esposa do Arnaldo que passa de mãos dadas com ele e os olhos alheios.
Bento e Capitulina são forças antagônicas. Arnaldo, soa matuto, "sua senhora", ao contrário, é senhora de si. O embate contemplativo que acabo de ler me faz pensar o bolo de fubá, o café dispenso assim como a esposa do Arnaldo, mulherzinha supostamente quente demais! Feliz crônica!
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