Encantado, ele pôs-se a olhar os acontecimentos: o carro luxuoso que passava, o cavalo mangalarga a correr pela pista de vaquejada, as senhoras bonitas a passearem pelas ruas dominicais da cidade. Do alto do prédio era aquela a cena que vislumbrava.
Nao entendia o porquê de, numa cidade como aquela, numa época como essa, pudesse haver tamanhas injustiças. Retirou do bolso as contas: de água,de luz, do aluguel,do armazém... Contas, contas, contas; era só o que tinha. A mulher reclamando, os filhos chorando, o patrão reclamando suas faltas,as dores a tomar o seu corpo ainda jovem.
Lembrava-se de quando ainda era garoto;as meninas que derrubava na pracinha; os sonhos que tramava; as contas que fazia do futuro e desimportância que lhe tinha o passado. Era um sonhador, um louco! Nunca havia pensado no futuro, nos problemas, na vida. Agora pagava sua dívida, pagava pelospecados que cometera; chegara o seu dia.
Olhou novamente as contas, uma por uma, como se bebericassealguns goles de cachaça; lembrou-se da esposa, que deveria estar em casa, reclamando as contas a pagar; lembrou-se dos filhos, sem tero que comer naquela manha de domingo; lembrou-se das menininhas da pracinha. Uma lágrima escorreu-lhe pelo rosto. Sentiu que era a hora. Fechou os olhos, pensou no futuro, não tinha nada. Não pensava em nada; apenas deu um passo a frente e libertou-se.
Muito similar ao brasileiro hoje em dia.Sem futuro,sem sonhos,sem qualquer expectativa.
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