quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

EM ALGUM LUGAR DO FUTURO

     Fazia o ano de 2020. O mundo não acabara e todos os compromissos haveriam de ser cumpridos. Em 2012 muitas foram as catástrofes, mas o mundo persistira e mantivera-se firme na sua rota. Os pólos estavam confusos, é bem verdade, mas a vida continuava. Sentado na minha poltrona, assistia todos os dias às notícias jornalísticas; não eram mais notícias ruins, não se falava mais em catástrofes. De diferente nos noticiários, apenas as intervenções da NASA em diversos outros planetas, galaxias, mundos.
     O Brasil já era a maior nação do planeta terra. Milhares de terráqueos viviam na lua. Outros preferiam residir em Marte. Metade dos governantes deste planeta eram mulheres, uma terça parte homossexuais e cinquenta por cento negros. Vivíamos anos áureos. A economia não conhecia mais sobressaltos. As línguas foram unificadas, juntamente com as moedas; agora se falava Sânscrito. As comidas eram vegetarianas e a água era cristalina, uma parte importada de Marte, onde, descobrira-se, havia muita água no subsolo; a outra parte era produzida aqui na terra, em forma de pó.
     As crianças já nasciam de olhos abertos, conversando e mexendo em celulares e laptops. Os carros voavam por rotas pré-traçadas pelos incontestáveis órgãos governamentais e a vida passava de forma lenta, com muito tempo a ser gasto e muita coisa com que gastá-lo. Os sonhos eram todos gravados numa memória virtual só para, depois, cada indivíduo poder realizá-lo, exatamente como havia sonhado.
     Tudo seria uma maravilha, a não ser pelo fato de não haver educação, nem escola. De início, todos gostaram, menos os pais que teriam que aguentar os filhos em casa. Mas com o tempo tudo virou uma grande chatisse. Não havia mais professores, nem livros, nem carteiras, nem quadros-negros, nem o que se ensinar. Estávamos na modernidade e tudo já vinha pronto, enlatado, pré-fabricado, sobretudo o conhecimento. Tudo obra de um antigo professor que virara governador e sonhava em ser rei.
     A vida melhorara. Os sonhos realizavam-se. A violência diminuíra. As distâncias findaram-se. Mas, no fundo, bem lá no íntimo de cada indivíduo, desde os mais velhos anciãos até os mais novos pupilos pairava uma saudade. Ninguém sabia ao certo de que, mas ela brotava pequenina, feito uma pequena chama e ia crescendo, crescendo, crescendo, até saltar da boca, feito uma palavra feia e malquista: ALUNO. E do seu trono de governador-sonhador o pseudo-professor tremia pavorosamente.

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