sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

AINDA SOBRE O ARNALDO (E SUA ESPOSA)

     Manhã ensolarada de um Fevereiro qualquer. Um carroceiro passa gritando um aiô triste, como que num berro de mal agouro. Numa casa próxima, uma mulher ronca; trata-se de um ronco forte, decidido, sem sonhos, nem paixões. O vizinho de baixo continua a a aboiar seus gados imaginários, como se sonhasse com suas fazendas, suas riquezas, suas paixões, coisas que nunca lhe pertenceram, mas que estavam arraigadas em sua alma.
     Sentada em minha varanda, acompanhado de meus pensamentos, continuo a observar o mundo e suas particularidades ímpares. É cedo ainda e ninguém me veio travar uma conversa, gastar um dedinho de prosa. Amarro um cigarro de palha, enquanto degusto um café grosso, adoçado com rapadura, e como uma broa, preparada de véspera pela empregada.
     O Arnaldo faz tempo que não vejo. Não tem aparecido. Deve estar feliz com sua esposa. Talvez curtam lua-de-mel; ou talvez estejam trabalhando em uma carvoeira qualquer. A mulher do Arnaldo não trabalha, mas o pobre coitado só labuta com ela do lado, como se precisasse de um apoio, de uma motivação para o ofício.O homem é bom trabalhador, ordeiro, honesto, mas depende de sua esposa e, convenhamos, isso acaba por atrapalhá-lo.
     Sinto saudades de vê-los passar por esta rua. O Arnaldo com seu caminhar humilde e sua senhora, com seus seios fartos, sua bunda firme e seu olhar matreiro. Pobre Arnaldo, não sabe a esposa que tem! Tão bela, tão boa... Tão perigosa! Puxo o primeiro trago do roleiro e, enquanto solto sua fumaça enegrecida, sinto o gosto dela, e vejo o seu corpo, sempre com o Arnaldo ao seu lado, feito um menino feliz a levar seu brinquedinho para casa.

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