AS
RAZÕES DE SE VIVER
PARA OS AMIGOS RICCI E LÉO
A vida anda pela hora da morte. Tudo caro, comida,
roupa, materiais de construção. Mas, apesar de tudo –
e de todos – o amor continua; pelo menos para o Léo e a
Ricci. Talvez eles sejam daquele tempo em que “até a morte
nos separe” ou “na doença e na saúde, na alegria e
na tristeza...”. Sempre choro ao ouvir a música nupcial.
Faz calor nos gerais. A inflação tem caído
– pouco, mas vem caindo-, as crianças cresceram e o Bruno
continua no “Bastidores”. É cedo ainda, mês de
Março, e já dizem que o mundo acabará em
Dezembro. Que acabe, pois o amor de Ricci e Léo perdurará.
Não; não venho falar de ambos. Falo de coisas vãs,
como o bêbado que fala bobagens na porta da venda e a menina
que sobe a rua com uma sacola em cada mão, enquanto o vento,
matreiro, sopra o seu vestidinho rendado.
A vida começa agora, em Março, após
o carnaval; com suas contas, as velhas promessas a serem cumpridas e
os novos sonhos a serem sonhados. Continuo falando da vida alheia;
observando; metendo o bedelho sem ser chamado. Os alunos continuam
não querendo nada com nada, continuam simplesmente “ALUNOS”.
Não tem nada de novo: a manhã que nasce
com o sol forte, escaldante, sol gerazeiro; os carros passando em
alta velocidade para lá e para cá; os pássaros
voando para o sul, sempre em bandos; os moleques descendo a rua em
seus skates; os homens indo para o serviço, com suas mulheres
de camisola, debruçadas na janela, sempre a esperar pela volta
– ou pelo outro.
Dizem que a vida passa rápido. Mentira. Rápido
passamos nós, sem observarmos o verde, os passarinhos, os
rios, o ar, os espíritos a nos espiarem em nossas intimidades.
No rádio o Ênio grita: MARCOU, MARCOU, MARCOU!... E as
lembranças vêem, uma a uma, a espera do momento oportuno
para se materiarizaem, feito fossem gotículas mágicas,
ou o pó de pirlimpimpim!
Tudo isso não passam de devaneios. Loucuras de um
poeta das Gerais que viaja, viaja e sempre acaba no mesmo lugar;
saciado, cansado, extasiado, como se nada mais valesse, nem mesmo as
noites fantásticas ao lado de Tereza sobre a grama verde do
Pacuí. O que existe mesmo são as estrelas que
reverberam no céu, fazendo brilhar o lençol enegrecido
que consome a vida do sertanejo e o amor que brota da alma de dois
belorizontinos, feito uma poesia drumondiana ou a mais bela cantiga
d’amor.
Belô de morros e prédios. De ruas que
sobem, sobem, até quase chegarem aos céus. Terra de
amigos desconhecidos, mas queridos; de mulheres bonitas, mineiras,
singelas. Terra de poesia e encantos, onde a vida não passa,
transfigura-se em verso e prosa. Por lá estive uma, duas,
algumas vezes e voltei, certo de que a mineiridade está em
todos os cantos, desde a alma até a carne do poeta.
Enquanto isso, numa curva convexa, complexa; numa rua
qualquer, um sorriso brota dos olhos de um seresteiro que canta com o
coração extasiado o amor latente entre um homem e uma
mulher, duas almas em plena mineiridade.
MUITO OBRIGADO, ELISMAR.. ADOREI!! VC É MUITO INTELIGENTE!!
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