quinta-feira, 1 de março de 2012

AS RAZÕES DE SE VIVER

LEMBRANÇAS DE UM MENINO
AS RAZÕES DE SE VIVER



PARA OS AMIGOS RICCI E LÉO



A vida anda pela hora da morte. Tudo caro, comida, roupa, materiais de construção. Mas, apesar de tudo – e de todos – o amor continua; pelo menos para o Léo e a Ricci. Talvez eles sejam daquele tempo em que “até a morte nos separe” ou “na doença e na saúde, na alegria e na tristeza...”. Sempre choro ao ouvir a música nupcial.
Faz calor nos gerais. A inflação tem caído – pouco, mas vem caindo-, as crianças cresceram e o Bruno continua no “Bastidores”. É cedo ainda, mês de Março, e já dizem que o mundo acabará em Dezembro. Que acabe, pois o amor de Ricci e Léo perdurará. Não; não venho falar de ambos. Falo de coisas vãs, como o bêbado que fala bobagens na porta da venda e a menina que sobe a rua com uma sacola em cada mão, enquanto o vento, matreiro, sopra o seu vestidinho rendado.
A vida começa agora, em Março, após o carnaval; com suas contas, as velhas promessas a serem cumpridas e os novos sonhos a serem sonhados. Continuo falando da vida alheia; observando; metendo o bedelho sem ser chamado. Os alunos continuam não querendo nada com nada, continuam simplesmente “ALUNOS”.
Não tem nada de novo: a manhã que nasce com o sol forte, escaldante, sol gerazeiro; os carros passando em alta velocidade para lá e para cá; os pássaros voando para o sul, sempre em bandos; os moleques descendo a rua em seus skates; os homens indo para o serviço, com suas mulheres de camisola, debruçadas na janela, sempre a esperar pela volta – ou pelo outro.
Dizem que a vida passa rápido. Mentira. Rápido passamos nós, sem observarmos o verde, os passarinhos, os rios, o ar, os espíritos a nos espiarem em nossas intimidades. No rádio o Ênio grita: MARCOU, MARCOU, MARCOU!... E as lembranças vêem, uma a uma, a espera do momento oportuno para se materiarizaem, feito fossem gotículas mágicas, ou o pó de pirlimpimpim!
Tudo isso não passam de devaneios. Loucuras de um poeta das Gerais que viaja, viaja e sempre acaba no mesmo lugar; saciado, cansado, extasiado, como se nada mais valesse, nem mesmo as noites fantásticas ao lado de Tereza sobre a grama verde do Pacuí. O que existe mesmo são as estrelas que reverberam no céu, fazendo brilhar o lençol enegrecido que consome a vida do sertanejo e o amor que brota da alma de dois belorizontinos, feito uma poesia drumondiana ou a mais bela cantiga d’amor.
Belô de morros e prédios. De ruas que sobem, sobem, até quase chegarem aos céus. Terra de amigos desconhecidos, mas queridos; de mulheres bonitas, mineiras, singelas. Terra de poesia e encantos, onde a vida não passa, transfigura-se em verso e prosa. Por lá estive uma, duas, algumas vezes e voltei, certo de que a mineiridade está em todos os cantos, desde a alma até a carne do poeta.
Enquanto isso, numa curva convexa, complexa; numa rua qualquer, um sorriso brota dos olhos de um seresteiro que canta com o coração extasiado o amor latente entre um homem e uma mulher, duas almas em plena mineiridade.

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