segunda-feira, 12 de março de 2012


O RETORNO

Por Renato Cheloni, de Belo Horizonte

Para um bom motociclista não existe nada melhor que um domingo ensolarado, como os das manhãs de verão, melhora mais ainda quando  seu time do Coração vai jogar em Sete Lagoas, na Arena  do Jacaré , não tem como perder, mas não imaginava que aquele dia seria diferente,  logo pela manhã pegou sua motocicleta, uma possante CB 600 Hornet 2012, e deu o famoso trato. O coração não queria esperar o horário da saída; já estava louco para pegar a BR 040 rumo ao jogo. Para ele não tem coisa melhor, sentir o vento no peito, e nas curvas mais fechada olhar pelo retrovisor e ver a pista, o tanto que a moto inclina; ah! não tem coisa melhor que deitar a moto numa curva a 120 km/h.
Mas aguentei firme e esperei até às 14:30, quando saímos, eu e minha esposa, que também adora acompanhar os jogos do Cruzeiro.A ida foi uma maravilha, moto possante, BR em ótimo estado de conservação, e alguns motoristas de carretas meio que loucos, talvez bêbados ou drogados e muitas vezes arrebitados com as famosas drogas que não deixam dormir e acabam morrendo de olhos abertos, e alguns  mais loucos, talvez doidos para chegar em casa e ver a família ou simplesmente com uma pulga atrás da orelha sempre a lembrar dos velhos ditados que amedrontam os caminhoneiros dizendo que são cornos... É o  que dizem...

Assim que começou o jogo o Villa nova foi pra cima do Cruzeiro, muito sufoco. E quando o time do vila estava bem melhor, o Cruzeiro fez o gol; sempre assim, o quem não faz leva; no segundo tempo a mesma coisa, o Villa quase empatando e Cruzeiro fez 2 x 0. Sorte nossa é que Temos o Montillo e o cara é craque mesmo, capaz de definir  qualquer jogo, foi dele a assistência para o primeiro gol e ele mesmo fez o segundo e saiu comemorando imitando um  cavalinho, meio que manco, mas muito legal.
Pelo celular eu e meus amigos, Elismar Santos, Léo balão, Roberto Abra Cadabra, fazíamos uma resenha bem legal pelo Twitter, mas uma mensagem  me colocou em  alerta: A Defesa Civil de BH alerta para pancadas de chuva moderada a forte (30 a 40 mm), rajadas de vento (50 – 60 km/h) e descargas elétricas.
Logo que o Juiz apitou o final da partida fomos embora, fui pegar meu veneno verde, a minha bela motoca, e partimos rumo a Contagem, logo na saída começamos a ver muitas descargas elétricas, que muitas vezes fazia uma bela paisagem pelo céu. Aqueles raios atravessavam de um lado para outro fazendo um lindo riscado de luz no céu e, ao mesmo tempo, era apavorante. Lembrei de quando minha filha ainda pequena ficava com muito medo dos relâmpagos e trovões provocados pela descarga elétrica, falava com ela que era apenas o papai do céu tirando foto da terra, o duro era explicar o som ensurdecedor que após dez segundos o trovão fazia, então a segurava com bastante cuidado e jeito para tampar os ouvidos.
Faltava pouco mais de três quilômetros para chegar em casa e até aquele momento eram só raios e trovões , com um pouco de vento, mas de repente como numa cena de cinema, (ah! quem me dera se  eu fosse um ator de cinema...) a chuva nos atingiu em um local que não tinha nem como parar e seria ate mais perigoso , e ela veio feroz parecia que queria apostar corrida comigo, talvez a uns 80 ou 100 km/h. É,  amigo,  experiência única e nunca mais quero passar por isso;  o vento era forte, acompanhado de enormes pedras de granizo vindas pela esquerda. Me via na frente de uma batalha, sendo metralhado com balas de gelo; quando batia no braço e pernas chegava a gritar de dor. Não,  não estou exagerando, já viu como fica um carro atingido por uma chuva de  granizo? Então imagina aquilo no braço, a moto muito boa e pesada com os pneus bem grossos, dava-me estabilidade, ora o vento batia pela esquerda como se fosse  alguém me empurrando para a direita e eu com muita experiência conseguia controlar a direção, alguém deve perguntar, “por que você não parou??” Ah, amigo,  não tinha como! O medo era grande, o coração disparava, batia mais rápido do que o coração de um adolescente beijando pela primeira fez.
 Tentava ver a estrada e o que se via era muita chuva e granizo, abrir a viseira nem pensar. Minha sorte foi uma carreta, que tenho tanto medo, apareceu; mas desta vez não para me assustar, não me empurrar  somente com o deslocamento do ar quando passa pela moto, mas sim para me dar uma proteção; parei ao lado dela diminuindo a velocidade e me protegendo contra a rajada de vento que vinha da esquerda, até conseguir parar debaixo de um viaduto onde vários motoqueiros e carros procuravam abrigo. na tentativa de escapar do granizo, fiquei por ali uns 2 minutos até voltar a pensar nos filhos que estavam  em casa sozinhos e só via a cena,  eles  agarrados juntinhos e chorando, sem luz.. e sem os pais por perto para defendê-los, aí não tinha jeito tive que voltar a encara a chuva só que agora mais calma.
Hoje pela manhã; saindo para trabalhar, vi o estrago da chuva e do granizo, coisa de louco, árvores de grande porte, poste de luz e telhados completamente destruídos, e agradeci muito a Deus por ter chegado vivo, Deus sempre está e sempre estará comigo.
Cuidado com a natureza ela esta somente mandando um aviso.

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