SEMPRE A MESMA HISTÓRIA
- O que você vai ser quando crescer?
E esta pergunta criou raízes em sua mente. Já não comia, não brincava, não dormia. Apenas a pergunta, sendo matutada em sua mente: “O que você vai ser quando crescer?”. Um dia, quando ainda era muito pequena, quis ser médica, salvar vidas, fazer o bem; depois, queria ser bancária, ganhar muito dinheiro; num outro dia, seria empresária, dona de uma grande loja de cosméticos...
Queria ser muitas, várias de uma só vez: cantora, modelo, atriz, dentista, professora... Era melhor perguntar à sua mãe. Ela era velha, já devia ter pensado no assunto:
- Mãe, o que a senhora queria ser quando crescesse?
- Bailarina. Ah!
- E por que não foi?
- Os tempos eram outros; eu era pobre... Depois veio o seu pai... Você...
- Ah, ta!
Mas não estava. A mãe não a ajudara; não queria ser bailarina. Não sabia dançar nem um sertanejo sequer! Era melhor perguntar para o seu pai. Ele devia saber:
- Pai, o que o senhor queria ser quando crescesse?
- Eu... Anh... Pintor.
- E por que não foi?
- É uma longa história, filhinha. Mas, depois eu me casei... Você chegou e...
- Tudo bem.
Não, não estava tudo bem. Os pais não eram nada do que haviam sonhado e, pelo jeito, a culpa era toda dela. Se ela não tivesse nascido!... Não pensaria mais em que seria quando crescesse. O jeito agora era não ser mais a filhinha deles. Amanhã haveria de tomar uma decisão; sairia de casa, iria morar com a vó, ela sim sabia o que queria ser quando crescesse.
...
- Vó, o que você queria ser quando crescesse?
- Eu queria ser enfermeira... Mas, daí veio o seu pai... Você...
- Sei, vó. Eu já ouvi esta história!
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