UM
DIA TENSO
AO MEU AMIGO LÉO
Foi um dia intenso; dia
tenso. As vendas irrisórias; o chefe enchendo a paciência
e uma terrível vontade de mandar tudo para o espaço. A
cabeça a mil; o suor descendo pela careca alva, correndo pela
testa e rosto, até cair, num único golpe, na barriga
saliente. O coração palpitando, as pernas trêmulas
e o sorriso forçado, forjado, posto à força no
rosto cansado.
Quarta-feira, e o lucro
ainda não viera. Os carros passando em alta velocidade na
avenida e as baterias encalhadas nas embalagens. Sol quente, com uma
nuvenzinha ao longe. Nuvem que crescerá e virará chuva,
queira Deus que não de granizo, como fora a de Domingo. A
internet ligada e o cunhado torrando as paciências. Ainda tem a
geladeira quebrada, sem nenhuma latinha gelando, nenhuma carne para o
churrasco, nenhuma alegria para o entardecer.
As lembranças vêm
à mente; uma terrível saudade da esposa. Vontade de
estar em casa, assistir à televisão, bajular o
cachorro, colocar as pernas pr’o ar. Os pés começam a
doer, os sapatos apertam, os dedos querem gritar, fugir, escapar do
pisante e saírem correndo pelo asfalto quente, pular no Arruda
e navegar para o infinito.
À noite tem jogo.
O Galo no Mato Grosso, ou seria Rondônia? Não importa...
Ao fundo, o radinho canta uma música qualquer, talvez um
tango, um bolero, um hit inexpressivo; um cliente entra na loja e
todos se põem a bajulá-lo. Sente uma vontade de xingar,
chutar o balde mesmo, mandar tudo para o espaço. Não
pode; não tem coragem. Encosta-se, apenas, no balcão e
observa a cena: os colegas engalfinhando-se por uma pequena margem de
lucro. Deveria estar ali, no meio do bolo; mas não tem ânimo,
prefere ficar à margem de tudo e de todos.
O terço dos homens
será na Quinta. O padre mandou avisar para não
faltarem. A mulher ainda e recuperação. Os passarinhos
pedindo água, comida, carinho, a mulher pedindo também.
A barriga pesando. E se fizesse um regime, fosse à academia,
parasse de beber? Não, melhor não... Academia, regime,
quem sabe... Mais um cliente adentra à loja. Faz menção
de levantar-se, juntar-se aos outros e bajular o indivíduo. O
telefone vibra. Não se junta; pega-o e lê: mais uma
mensagem. Não é o cunhado; sou eu avisando-lhe de que
sua Crônica já está acabada.
adoreiii
ResponderExcluirbooooooooooooommmmm!!
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