Eis uma Crônica de 2010 que vale a pena recordar:
OS MENINOS E A
BOLA
Naquele tempo é que era
chuva! As águas caíam sem dó nem piedade, mesmo. Não tinha problema,
brincávamos na chuva. Nessa época, a porta de minha casa já era asfaltada, então
íamos brincar na rua de baixo. Um bando de moleques correndo atrás de uma bola.
No início era bola de
meia, quando tinha meia, se não valia bola de plástico mesmo, pegava-se um
punhado de plásticos velhos e, como num passe de mágica, eis uma bola! Não, não
pegávamos resfriado. Não me lembro de qualquer gripezinha por causa dos jogos
sob a chuva... Pra falar a verdade, não me lembro de doenças durante a
infância. A não ser algumas arrancadas da cabeça do dedão do pé – mas isso era a prova de que jogávamos
bola na rua...
As brigas eram
inevitáveis, mas eram brigas de meninos: um empurrava de cá, outro revidava de
lá, até que um mais vantajoso vinha e dava o sinal:
- quem for mais homem,
cospe aqui! – O mais adiantado dava a cusparada e a zorra estava armada. No
outro dia, estávamos todos lá, brincando de bola de novo.
Não tinha esse negócio
de tênis, o pezão ia de encontro ao chão, sentindo a terra molhada dos dias de
chuva ou o ardor encardido de um dia de sol. Os pés eram cascudos, rachados,
sujos, mas eram pés de jogadores, pés pequenos de grandes homens que se criavam
correndo atrás de uma bola.
Não, não saiu nenhum
grande futebolista daqueles jogos, nem doutores ou políticos. Na verdade,
ninguém saiu. Até hoje, quem passar por aquela rua numa tarde de chuva, se
ficar quietinho escutando, é capaz de escutar os gritos daqueles moleques e a
harmonia dengosa da bola correndo pelo asfalto. Quicando, quicando...
CORAÇÃO DE JESUS,
23/02/2010
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