OS
ESPÍRITOS NOTURNOS
A
triste noite em que o telefone se calou
O mote que se vê acima
é um verso do poeta Délio Pinheiro. Um grande jornalista que, apesar de toda a
crueldade que vislumbra nas tantas notícias que noticia, sabe transportar em
palavras todas as emoções humanas.
Estive a pensar que talvez o pensamento do
poeta seja o mesmo que me aflige: a pior tristeza é aquela que vem à noite, sob
o brilho apático da lua e os olhares curiosos das almas. Verdade, as almas nos
observam durante a noite, e vêem nossas tristezas, nossos choros, nossas dores
convalescentes.
Ninguém me disse isso;
afinal, algumas coisas não precisam ser ditas. A gente sente! Seja num vento
frio que entra pela fresta da janela; seja por um arrepio que acontece bem na
espinha, ou por um calor intenso que nos acolhe no maior dos momentos de
solidão. Tudo isso são os espíritos que nos observam e nos protegem em nossa
tristeza.
É verdade que todo
poeta é um triste. É esta a mágica que nos move, nos faz escrever e divagar
pelas entranhas estranhas da alma. Também é verdade que alguns precisam sofrer
para que a tristeza lhe tome a alma; outros, porém, já a tem impregnada em seu
âmago e isso faz com que a poesia flua naturalmente, sem nem uma gota de sangue
ou lágrima sequer.
Não sei qual é a
inspiração do poeta Délio, mas creio que as notícias, que perambulam pela noite
à procura de que alguém lhes venha espalhar, não o escolhem por acaso, mas por
causa de uma atração única, especial, como que numa interação poética. O
telefone nada mais é que uma metáfora, uma ausência de comunicação; uma mudez
que nos ataca e nos aflige e nos faz sofrer e ser poetas e, depois, simples
almas a vagar pelo mundo, em busca de novas poesias.
O poeta é um fingidor,
conforme afirma Pessoa. Mas um fingidor de sua própria alma, tomada pelos
espíritos, pelas tristezas, pela falta de um telefone que toque e nos liberte
para que possamos, enfim, sentir a alegria de um vazio. Vazio que a cada dia
toma conta dos homens e afasta a poesia, os espíritos e deixa apenas as
tristezas que perambulam pelas notícias noturnas, solitariamente!
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