sábado, 7 de abril de 2012

OS ESPÍRITOS NOTURNOS


OS ESPÍRITOS NOTURNOS

A triste noite em que o telefone se calou


O mote que se vê acima é um verso do poeta Délio Pinheiro. Um grande jornalista que, apesar de toda a crueldade que vislumbra nas tantas notícias que noticia, sabe transportar em palavras todas as emoções humanas.
 Estive a pensar que talvez o pensamento do poeta seja o mesmo que me aflige: a pior tristeza é aquela que vem à noite, sob o brilho apático da lua e os olhares curiosos das almas. Verdade, as almas nos observam durante a noite, e vêem nossas tristezas, nossos choros, nossas dores convalescentes.
Ninguém me disse isso; afinal, algumas coisas não precisam ser ditas. A gente sente! Seja num vento frio que entra pela fresta da janela; seja por um arrepio que acontece bem na espinha, ou por um calor intenso que nos acolhe no maior dos momentos de solidão. Tudo isso são os espíritos que nos observam e nos protegem em nossa tristeza.
É verdade que todo poeta é um triste. É esta a mágica que nos move, nos faz escrever e divagar pelas entranhas estranhas da alma. Também é verdade que alguns precisam sofrer para que a tristeza lhe tome a alma; outros, porém, já a tem impregnada em seu âmago e isso faz com que a poesia flua naturalmente, sem nem uma gota de sangue ou lágrima sequer.
Não sei qual é a inspiração do poeta Délio, mas creio que as notícias, que perambulam pela noite à procura de que alguém lhes venha espalhar, não o escolhem por acaso, mas por causa de uma atração única, especial, como que numa interação poética. O telefone nada mais é que uma metáfora, uma ausência de comunicação; uma mudez que nos ataca e nos aflige e nos faz sofrer e ser poetas e, depois, simples almas a vagar pelo mundo, em busca de novas poesias.
O poeta é um fingidor, conforme afirma Pessoa. Mas um fingidor de sua própria alma, tomada pelos espíritos, pelas tristezas, pela falta de um telefone que toque e nos liberte para que possamos, enfim, sentir a alegria de um vazio. Vazio que a cada dia toma conta dos homens e afasta a poesia, os espíritos e deixa apenas as tristezas que perambulam pelas notícias noturnas, solitariamente! 

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