sexta-feira, 18 de maio de 2012

ALCIONE (II)


ALCIONE (II)


@ElismarSantos



As notícias chegavam aos ouvidos de Marieta, a esposa; mas ela não lhes dava ouvidos. Conhecia bem o marido e sabia da sua morte. Não cria em covardia de onça; tinha sido o rio quem o levara. Talvez tivesse passado mal as águas levaram-no ao seu descanso. Melhor assim, fica a incerteza da morte e a esperança da vida.

Depois que o velho sumira, o caçula transformou-se. Deixou os afazeres domésticos; armou-se da foice e da enxada e desceu para a roça. Passou a beber, primeiro apenas uma dose antes do almoço e do jantar, até enveredar-se por várias noites de farra.

Numa manhã comum, arrumou suas roupas numa pequena mala; dividiu com a mãe o dinheiro da última colheita e partiu. A mãe não tinha mais forças para lutar. Não pediu que ficasse, apenas que jurasse que nunca mais a haveria de esquecer. Por muito tempo ela ficaria encostada junto à porta, mesmo depois que o filho desaparecesse na curva daquela velha estrada, e, no peito, uma dor profunda doía sempre mais, como tinha sido nas outras onze vezes em que um filho saía do desconforto de suas asas.

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