quinta-feira, 17 de maio de 2012

ALCIONE


ALCIONE (I)

@ElismarSantos


Encostada junto à porta, o lenço encardido por entre as mãos, a mãe o via partir. As lágrimas escorriam pela face enrugada daquela mulher; aquele era o último, o caçula dentre doze irmãos, a sair daquele casebre. Os outros nunca mais haviam voltado, não mandavam notícias, nem cartas. Sumiram no mundo em busca de um futuro melhor, a procura de riquezas, fugindo da seca e da fome.

Quando Leônidas, o penúltimo, partira, Chico ainda estava ao seu lado. Alcione era ainda um menino, contando uns nove ou dez anos. Tinha sido o marido quem segurara toda a barra mais pesada, da vez em que ela adoecera, caindo por mais de quinze dias sobre a cama. Era ele quem cuidava da casa, do menino; quem fazia os chás e levava até a sua cama. Tudo passara a ser da sua conta.

Os meninos forma saindo um de cada vez, durante onze anos, até que este quebrou a rotina. Dizia não ter forças para sair pelo mundo, alegava apego aos bichos, à roça, aos pais. Sua vida se resumia ao trabalho na roça e no auxílio à casa. Quando pequeno, não ia à roça, ao contrário do que acontecera com os irmãos. Assim, enquanto o pai descia para o plantio, a limpa, ou a colheita, preferia ficar em casa. Fazia o almoço, ajudava na arrumação da casa; lavava as roupas menores e menos encardidas. Ajudava a sua mãe.

O pai não gostava daquele hábito, mas já estava velho, cansado e sem forças para reclamar. Dessa forma, sua desaprovação limitava-se aos seus pensamentos e isto já lhe era o bastante. Trabalhava do raiar do dia ao pôr do sol, mas fazia tempos que não sentia bem. Faltava-lhe o vigor e a força da juventude. O serviço já não rendia como antes e a única salvação da família era o seu parco aposento, pois o corpo já não lhe era mais de qualquer valia.

Num dia comum, o velho partira para o trabalho, deixando para trás a mulher e o menino. Ao cair da tarde nm.ão retornara e nunca mais se teve notícias suas. O que restou foram apenas suposições; e, dentre as tantas, algumas diziam que ele havia sido comido por alguma onça faminta; outras afirmavam que ele tinha fugido daquela vida sofrida, dali para bem longe, junto de outra mulher. Existiam ainda as más línguas que juravam que o pobre homem havia ido embora por causa do filho, Alcione, que não lhe saíra aos outros e, que, contrariando Chico, já andava de salamaleques com outros garotos, fazendo coisas impróprias para homens de bem.

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