A menina pegou todos os lápis e pôs sobre
a mesa; abriu o caderno e ficou a olhá-lo, como se estivesse a contemplar
alguma imagem, ou a imaginar o que desenharia. A mãe, que varria a casa àquela
hora, parou e ficou a observá-la. Vendo
a demora da filha em começar a sua arte; perguntou:
- Algum problema, minha filha? Por que
não está desenhando?
Sem tirar os olhos da folha em branco,
ainda com os lápis descansando sobre a mesa, a menina respondeu, com a voz um
pouco embargada:
- É que eu não sei o que desenhar.
- Que tal desenhar uma casa, com um belo
jardim, uma lagoa com alguns peixinhos e algumas árvores... Sugeriu a mãe,
entre solícita e reticente.
- A senhora não entende, mãe? Não quero
desenhar coisas... O que eu queria mesmo era desenhar os sentimentos. Às vezes
ainda consigo imaginar o que estou sentindo... Quando estou triste, imagino uma
grande nuvem negra, com alguns raios saindo, tudo pesado, doído. Quando estou
alegre, tudo parece claro, feliz, com o sol brilhando e sorrindo para as
plantas e os bichos.
A mãe, sem saber o que dizer, ainda
tentou uma última vez:
-Então por que não desenha o que você
está sentindo agora?!
- por que não sei o que desenhar, mãe.
Este sentimento eu nunca tinha sentido. Não estou triste, mas também não estou
feliz. É como se uma borboleta estivesse fazendo cócegas no meu peito e algumas
formigas caminhassem por dentro de minha barriga. Sinto calor, mas, é estranho,
estou sempre arrepiada, como se alguma coisa me soprasse os ouvidos, como o que
eu sentia quando a senhora me mordia as orelhas na hora de dormir.
A mãe começou a preocupar-se com aquilo.
Já sabia que sentimento era aquele, mas não tinha coragem de perguntar. Torcia
para que não fosse o que ela pensava, mas, podia jurar, aquilo era o primeiro
amor, que batia à porta do coraçãozinho.
- E quando é que você sente isso, minha
filha? Quando é que ele vem com mais força?
- Sinto o tempo todo, mãe. Mas, as
formigas e a borboleta atacam mesmo é quando vejo o Toninho; quando ele pega na
minha mão e quando me beija de leve na boca, mãe.
Ela continuou a varrer a casa e não disse
mais qualquer palavra. Mas pensava que haveria de conversar com o pai, assim
que fossem se deitar. Ele saberia o que fazer. Afinal, a menina tinha apenas
doze anos, e era ainda a sua criança.
lindo e singelo
ResponderExcluirO Primeiro amor é tao magico!!!!
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