quinta-feira, 13 de março de 2014

IOLANDA

Fazia tempo que ela não tirava um momento para si mesma. Este era o pensamento de Iolanda, quando resolveu deixar o marido e os filhos em casa e partir para um final de semana na praia. Saiu de manhãzinha, quando todos ainda dormiam; o marido, na sala, desde algum tempo, por causa de umas puladas de cerca; os filhos no quarto de cima. Saiu lentamente, pisando leve; fechou a porta e se foi.

Não tinha pensamentos inescrupulosos, maldosos ou ilibados; apenas queria um descanso, alguns dias para curtir a si mesma, sem se preocupar com a casa, com a família, com os problemas do dia-a-dia, afinal, eram quinze anos naquela mesma rotina, sem passeios, sem carinho, sem amor. Agora tinha certeza: tornara-se uma escrava do lar, sem direito à carta de alforria ou coisa parecida.

Pegara o táxi do Maninho, já cheio, pronto a zarpar. Na estrada, não disse qualquer palavra. Levava apenas uma pequena bolsa e algum pouco dinheiro, além do cartão de crédito, que pegara da carteira de Agenor, o marido, enquanto este dormia. Não olhava para os outros passageiros; não olhava para nada, apenas pensava, e isso lhe fazia bem. Muito bem.

em Montes Claros, pegara o ônibus para o Rio de Janeiro. Viveria as praias cariocas, iria ao Corcovado, à Santa Teresa, tomaria banho de mar em Ipanema. Voltaria na segunda de manhã, ou, se não sentisse vontade de voltar, ficaria mesmo na cidade maravilhosa. Talvez se arranjasse em alguma casa de família; voltaria a ser escrava, mas, agora, com carteira assinada e todos os seus direitos.


No Rio de Janeiro, ao descer da rodoviária, conheceu um americano, que lhe viera pedir uma informação qualquer. Não sabia qualquer palavra em Inglês, por isso, comunicaram-se por gestos e olhares. Iolanda gostara do gringo e, pelo parece, ele também gostara do seu sorriso, das suas ancas avantajadas, da sua cor morena, brasileira. Seguiram no mesmo táxi para o hotel, onde ficariam no mesmo quarto, e ele pagaria a conta. Enquanto, em Coração de Jesus, Agenor ainda não entendia o porquê de a mulher ter indo embora. Ela tinha uma vida de rainha... de rainha!  

Nenhum comentário:

Postar um comentário