Fazia tempo que ela não tirava um momento para si
mesma. Este era o pensamento de Iolanda, quando resolveu deixar o marido e os
filhos em casa e partir para um final de semana na praia. Saiu de manhãzinha,
quando todos ainda dormiam; o marido, na sala, desde algum tempo, por causa de
umas puladas de cerca; os filhos no quarto de cima. Saiu lentamente, pisando
leve; fechou a porta e se foi.
Não tinha pensamentos inescrupulosos, maldosos ou
ilibados; apenas queria um descanso, alguns dias para curtir a si mesma, sem se
preocupar com a casa, com a família, com os problemas do dia-a-dia, afinal,
eram quinze anos naquela mesma rotina, sem passeios, sem carinho, sem amor. Agora
tinha certeza: tornara-se uma escrava do lar, sem direito à carta de alforria
ou coisa parecida.
Pegara o táxi do Maninho, já cheio, pronto a zarpar.
Na estrada, não disse qualquer palavra. Levava apenas uma pequena bolsa e algum
pouco dinheiro, além do cartão de crédito, que pegara da carteira de Agenor, o
marido, enquanto este dormia. Não olhava para os outros passageiros; não olhava
para nada, apenas pensava, e isso lhe fazia bem. Muito bem.
Já em Montes Claros , pegara o ônibus para o Rio de
Janeiro. Viveria as praias cariocas, iria ao Corcovado, à Santa Teresa, tomaria
banho de mar em
Ipanema. Voltaria na segunda de manhã, ou, se não sentisse vontade
de voltar, ficaria mesmo na cidade maravilhosa. Talvez se arranjasse em alguma
casa de família; voltaria a ser escrava, mas, agora, com carteira assinada e todos
os seus direitos.
No Rio de Janeiro, ao descer da rodoviária, conheceu
um americano, que lhe viera pedir uma informação qualquer. Não sabia qualquer
palavra em Inglês, por isso, comunicaram-se por gestos e olhares. Iolanda
gostara do gringo e, pelo parece, ele também gostara do seu sorriso, das suas
ancas avantajadas, da sua cor morena, brasileira. Seguiram no mesmo táxi para o
hotel, onde ficariam no mesmo quarto, e ele pagaria a conta. Enquanto, em Coração
de Jesus, Agenor ainda não entendia o porquê de a mulher ter indo embora. Ela
tinha uma vida de rainha... de rainha!
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