É verdade que o número de carros pelas ruas de nossas
cidades tem aumentado significativamente. Em Coração de Jesus, o fluxo de veículos
ainda não tem atrapalhado, e creio que demore ainda um tempo para que isto
possa acontecer. Algumas placas estão sendo colocadas na região central da
cidade, além de se adaptarem algumas ruas, para que o trânsito possa fluir com
maior organização. Se isto dará certo, só o tempo dirá; mas a velha lembrança
do Abacatinho voltou a bater na porta da minha memória.
Abacatinho foi o primeiro carro do meu pai que eu
conheci. Antes ele tivera uma Rural; mas isso foi quando eu ainda era uma
criança de colo, engatinhando dentro do rancho de Pau à pique, ou comendo terra
perto dos fornos de carvão, no Santa Teresa. O Abacate, um corcelzinho Pé-duro,
nascido pelos anos 70, era o xodó da família. Já chegara em casa velho, pelo
finais da década de 1990; mas ajudara bastante, embora também nos desse
bastantes problemas.
De todos nós, o Marcos, que ainda era bebê, talvez
tenha sido quem mais gostara do Abacatinho. Como a internet ainda não fosse
popularizada e nem mesmo computador tivéssemos em casa, o carro era a principal
diversão do moleque. E se o deixássemos ali por todo o dia, na certa que não
haveria de reclamar. Quase não andávamos nele – o Marcos e eu – mas ficávamos mexendo
no rádio, fuçando os bancos, virando a direção para lá e para cá; até que a
criança adormecia e pudesse ser levada ao berço.
As viagens com o Corcelzinho eram mínimas, em sua
maioria até o Sanharó, em visitas às irmãs do meu pai. E é bem verdade que,
embora algumas poucas vezes, ele acabava por nos deixar na mão; como no dia em
que faltou o freio e atravessamos um mata-burros em alta velocidade e em silêncio. Depois ,
mais adiante, paramos e rimos daquela situação.
Mas o Abacatinho, num dia triste, sem sol nem
esperanças, foi vendido a outro dono. O Marcos, já crescido, não morava mais em
casa e não viu a sua partida. Parecia que o carrinho chorava ao sair da
garagem, sendo levado por outras mãos, sem qualquer sentimento, sem nenhum
carinho sequer. Ainda hoje me lembro do corcelzinho verde, com massas de
lanternagem na lataria e um sorriso sempre escancarado no capô. Sempre com um
sorriso, o pobre Abacatinho, até o dia em que saiu de casa, e nunca mais
voltou.
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