quarta-feira, 19 de março de 2014

O ABACATINHO

É verdade que o número de carros pelas ruas de nossas cidades tem aumentado significativamente. Em Coração de Jesus, o fluxo de veículos ainda não tem atrapalhado, e creio que demore ainda um tempo para que isto possa acontecer. Algumas placas estão sendo colocadas na região central da cidade, além de se adaptarem algumas ruas, para que o trânsito possa fluir com maior organização. Se isto dará certo, só o tempo dirá; mas a velha lembrança do Abacatinho voltou a bater na porta da minha memória.

Abacatinho foi o primeiro carro do meu pai que eu conheci. Antes ele tivera uma Rural; mas isso foi quando eu ainda era uma criança de colo, engatinhando dentro do rancho de Pau à pique, ou comendo terra perto dos fornos de carvão, no Santa Teresa. O Abacate, um corcelzinho Pé-duro, nascido pelos anos 70, era o xodó da família. Já chegara em casa velho, pelo finais da década de 1990; mas ajudara bastante, embora também nos desse bastantes problemas.

De todos nós, o Marcos, que ainda era bebê, talvez tenha sido quem mais gostara do Abacatinho. Como a internet ainda não fosse popularizada e nem mesmo computador tivéssemos em casa, o carro era a principal diversão do moleque. E se o deixássemos ali por todo o dia, na certa que não haveria de reclamar. Quase não andávamos nele – o Marcos e eu – mas ficávamos mexendo no rádio, fuçando os bancos, virando a direção para lá e para cá; até que a criança adormecia e pudesse ser levada ao berço.

As viagens com o Corcelzinho eram mínimas, em sua maioria até o Sanharó, em visitas às irmãs do meu pai. E é bem verdade que, embora algumas poucas vezes, ele acabava por nos deixar na mão; como no dia em que faltou o freio e atravessamos um mata-burros em alta velocidade e em silêncio. Depois, mais adiante, paramos e rimos daquela situação.


Mas o Abacatinho, num dia triste, sem sol nem esperanças, foi vendido a outro dono. O Marcos, já crescido, não morava mais em casa e não viu a sua partida. Parecia que o carrinho chorava ao sair da garagem, sendo levado por outras mãos, sem qualquer sentimento, sem nenhum carinho sequer. Ainda hoje me lembro do corcelzinho verde, com massas de lanternagem na lataria e um sorriso sempre escancarado no capô. Sempre com um sorriso, o pobre Abacatinho, até o dia em que saiu de casa, e nunca mais voltou.

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