A tampinha de algum vidro de perfume está depositada
sobre os livros na escrivaninha. Na verdade, não sei bem ao certo qual a
serventia de uma tampinha, seja ela de vidros de perfume ou qualquer outra
coisa. Assim como também não sei, ao certo, o porquê de tantos outros objetos. Também
não sei o porquê de a tampinha ainda estar sobre a escrivaninha. E concluo que,
de fato, não sabemos de quase nada.
É estranho, mas, acostumamo-nos a guardar um monte de
coisa, ainda que estas não nos sirvam para nada, afinal, dizem que o que não
presta deve ser guardado por sete anos. Eu, por exemplo, tenho sobre esta mesma
escrivaninha uma capa velha de um celular antigo que nem possuo mais; um pedaço
de giz branco, já bastante gasto; um relógio sem pilha ou bateria, logo, sem
qualquer utilidade e uma porca de metal, retirada de alguma coisa velha, que
nem mesmo sei para que serve!
E todo mundo tem as suas tranqueiras; alguns, bem
guardados, outros, como eu, deixam-nas espalhadas pela casa, ao bel-sabor do
tempo – e do vento. Lembro-me, pois, daquele sujeito que tinha um quarto apenas
para guardar suas tralhas. Chegava e jogava tudo o que não lhe servia mais
dentro daquele cômodo. Um dia, num átimo de limpeza e organização, sua esposa
deu de arrumar toda aquela bagunça. Ao entrar no quartinho da bagunça, o homem
não se achou naquele espaço e ficou perdido em meio a tamanha organização.
É desse jeito, cada um temos a nossa própria bagunça
organizada e sabemos muito bem onde não colocamos o que não precisamos. E tudo
aquilo continuará no mesmo lugar, na mesma desorganização premeditada, até o
dia em que alguma alma desvirtuada, nossas namoradas, num momento de loucura,
cismará de dar uma faxina geral. Daí já não nos encontraremos mais e, acredite,
teremos alguns sete anos de muito azar, e perdição!
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