quarta-feira, 9 de abril de 2014

PROFESSOR MORRE NO PARAÍSO

Em São Paulo tem um bairro que se chama paraíso. Nunca fui à capital paulista; sendo assim, nunca fui ao Paraíso. Boa parte dos corjesuenses, creio eu, também não conhece o Paraíso, em São Paulo. Como bons mineiros, preferimos ficar quietos no nosso canto, olhando o tempo passar, silenciosos e pensativos, sem grandes alardes. Mas não é este o X da questão. O que me intriga é que um professor morreu no Paraíso.

Deu no jornal, na minha televisão, em plena manhã de quarta-feira: “professor é morto dentro de carro, enquanto esperava pela esposa, no estacionamento de um supermercado, no paraíso, em São Paulo. O homem falava ao telefone”. É incrível, mas, era um professor no paraíso, dentro de um carro, falando ao telefone, mas, ainda assim, foi morto por bandidos. O mundo está mesmo perdido.

Aqui de Minas, bem no norte do estado, numa cidadezinha besta de nome abençoado: Coração de Jesus, fico imaginando a cena: O homem acabara de passar no banco para pegar o seu parco salário, fruto de um mês inteiro de sofrimento e estresse dentro da sala de aula, cada turma com quase quarenta alunos; a maioria desinteressados e sem perspectivas. Dinheiro suado, que mal daria para pagar as contas do mês.

A primeira coisa a se fazer seria pagar as contas de luz, água e o aluguel; depois, pagar-se-iam as contas que levam o nome ao SPC e, por último, fazer a feira do mês e pagar as contas menores. E ele já estava na penúltima etapa do roteiro, já quase sem dinheiro, cansado de tanta correria, louco para chegar em casa, tomar um banho e cair na cama.


A mulher se demorava lá dentro. Talvez estivesse comprando doces, salgadinhos, bobagens. Já lhe havia avisado que comprasse apenas o necessário; o dinheiro estava parco e as contas ainda iam a galope. Resolveu ligar para a esposa, pedir que se apressasse, que fossem embora; de manhã teria mais cinco horários para lecionar. De repente, um bate na janela. Afastou o telefone e virou-se. No susto, um grito, um movimento involuntário e o tiro. Não haveria aula na manhã seguinte; o professor fora ao paraíso.

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