Deu no jornal, na minha televisão, em plena manhã de quarta-feira:
“professor é morto dentro de carro, enquanto esperava pela esposa, no
estacionamento de um supermercado, no paraíso, em São Paulo. O homem falava ao
telefone”. É incrível, mas, era um professor no paraíso, dentro de um carro,
falando ao telefone, mas, ainda assim, foi morto por bandidos. O mundo está
mesmo perdido.
Aqui de Minas, bem no norte do estado, numa
cidadezinha besta de nome abençoado: Coração de Jesus, fico imaginando a cena:
O homem acabara de passar no banco para pegar o seu parco salário, fruto de um
mês inteiro de sofrimento e estresse dentro da sala de aula, cada turma com
quase quarenta alunos; a maioria desinteressados e sem perspectivas. Dinheiro
suado, que mal daria para pagar as contas do mês.
A primeira coisa a se fazer seria pagar as contas de
luz, água e o aluguel; depois, pagar-se-iam as contas que levam o nome ao SPC e,
por último, fazer a feira do mês e pagar as contas menores. E ele já estava na
penúltima etapa do roteiro, já quase sem dinheiro, cansado de tanta correria,
louco para chegar em casa, tomar um banho e cair na cama.
A mulher se demorava lá dentro. Talvez estivesse
comprando doces, salgadinhos, bobagens. Já lhe havia avisado que comprasse
apenas o necessário; o dinheiro estava parco e as contas ainda iam a galope. Resolveu
ligar para a esposa, pedir que se apressasse, que fossem embora; de manhã teria
mais cinco horários para lecionar. De repente, um bate na janela. Afastou o
telefone e virou-se. No susto, um grito, um movimento involuntário e o tiro. Não
haveria aula na manhã seguinte; o professor fora ao paraíso.
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