Quando o primeiro tiro falhou, ele pensou
em correr, procurar abrigo, gritar por socorro; mas faltaram-lhe as pernas e a única
ação que conseguiu foi ajoelhar-se e orar. Nunca fora um homem de fé, mas,
naquela situação, lembrara-se de que talvez aquela fosse a sua última saída. Esperava
que a arma mascasse, que o tiro não saísse, que o coração do garoto se
abrandasse.
Era um garoto quem empunhava o 38. No máximo,
teria uns alguns 17 anos, ainda com o rosto coberto de espinhas, o cabelo
cortado à Moicano e aparelhos nos dentes. Não tinha cara de criminoso.
Contrariando as expectativas, vestia roupas de marca e trazia alguns cordões de
ouro no braço e no pescoço. Talvez nem fosse pobre ou favelado.
As orações pareciam surtir efeito. O
garoto tentou mais um disparo, mas a arma falhou. Alguns palavrões foram
ouvidos, enquanto ele continuava a sua procissão de fé. Tentava se lembrar das
orações que a mãe fazia todas as noites, quando iam dormir. Fazia tempo que não
orava, que não ia à uma igreja, que não pediam as bênçãos de Deus. Mas, agora,
rezava, com toda a fé que nunca antes tivera.
O rapazinho irritava-se com o seu revólver.
Mexia-o de um lado a outro, olhava pelos buracos do tambor; tirava as balas e
punha-as novamente na arma, puxava o gatilho e nada. Não tinha jeito, melhor
era deixar aquele homem ali e fugir. Já tinha o que queria, o que ganhara já
seria o suficiente para uma boa pedra ou alguns cigarros. Mas e se ele o
entregasse, tinha que dar um fim no sujeito e a droga da arma que não
funcionava!
O suor já lhe corria pela testa; os
olhos fechados, à espera do disparo final, enquanto as orações aumentavam a sua
esperança. Pela última, vez escutara um movimento. O garoto, de novo, mexia no
revólver, empunhava-o à altura dos olhos e atirava. Não sentira nada, nenhuma
dor ou impacto. A arma falhara novamente, enquanto, ele fazia a sua última
tentativa, uma promessa a todos os santos: casaria com Tereza – depois de 10
anos de namoro – se lhe poupassem a vida. Agora teria que cumprir a sua triste
promessa.
Bacana! :D
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