terça-feira, 8 de abril de 2014

A PROMESSA

Quando o primeiro tiro falhou, ele pensou em correr, procurar abrigo, gritar por socorro; mas faltaram-lhe as pernas e a única ação que conseguiu foi ajoelhar-se e orar. Nunca fora um homem de fé, mas, naquela situação, lembrara-se de que talvez aquela fosse a sua última saída. Esperava que a arma mascasse, que o tiro não saísse, que o coração do garoto se abrandasse.

Era um garoto quem empunhava o 38. No máximo, teria uns alguns 17 anos, ainda com o rosto coberto de espinhas, o cabelo cortado à Moicano e aparelhos nos dentes. Não tinha cara de criminoso. Contrariando as expectativas, vestia roupas de marca e trazia alguns cordões de ouro no braço e no pescoço. Talvez nem fosse pobre ou favelado.

As orações pareciam surtir efeito. O garoto tentou mais um disparo, mas a arma falhou. Alguns palavrões foram ouvidos, enquanto ele continuava a sua procissão de fé. Tentava se lembrar das orações que a mãe fazia todas as noites, quando iam dormir. Fazia tempo que não orava, que não ia à uma igreja, que não pediam as bênçãos de Deus. Mas, agora, rezava, com toda a fé que nunca antes tivera.

O rapazinho irritava-se com o seu revólver. Mexia-o de um lado a outro, olhava pelos buracos do tambor; tirava as balas e punha-as novamente na arma, puxava o gatilho e nada. Não tinha jeito, melhor era deixar aquele homem ali e fugir. Já tinha o que queria, o que ganhara já seria o suficiente para uma boa pedra ou alguns cigarros. Mas e se ele o entregasse, tinha que dar um fim no sujeito e a droga da arma que não funcionava!


          O suor já lhe corria pela testa; os olhos fechados, à espera do disparo final, enquanto as orações aumentavam a sua esperança. Pela última, vez escutara um movimento. O garoto, de novo, mexia no revólver, empunhava-o à altura dos olhos e atirava. Não sentira nada, nenhuma dor ou impacto. A arma falhara novamente, enquanto, ele fazia a sua última tentativa, uma promessa a todos os santos: casaria com Tereza – depois de 10 anos de namoro – se lhe poupassem a vida. Agora teria que cumprir a sua triste promessa.

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