quarta-feira, 30 de julho de 2014

LEMBRANÇAS AGUSTINAS

O mês de agosto vem chegando, mas, o frio e o vento já estão por aqui faz algum tempo. E, com eles, vieram também algumas lembranças. A primeira delas são os rodamoinhos, para nós, crianças, ridimunhos, que começavam pelos lados da AABB e vinham descendo até as casas mais baixas. As crianças assobiávamos à beça, só para vê-los crescer, enquanto as mães ralhavam as nossas peraltices e ordenavam que fechássemos todas as portas e janelas. Até que, numa tarde de sol e vento, um ridimunho entrou na casa de uma vizinha, bagunçou as vasilhas e arrancou todas as telhas do casebre.

Eu já pensei em entrar com uma peneira dentro do ridimunho e pegar o saci que mora lá dentro. Diziam que ele virava um capetinha que, se colocado dentro de uma garrafa, realizaria todos os nossos desejos. Mas eu era medroso, e preferia ficar de longe assobiando, vendo a poeira tomar os céus da cidade, quase arrancando as roupas brancas no varal, naquelas tardes de vento, sol e muito frio. Desse jeito: poeticamente paradoxal.

Depois que os ridimunhos passavam, enquanto as mulheres, com cara de poucos amigos, retiravam as roupas, agora sujas, do varal, subíamos para as terras do Zé Lopes, onde soltávamos pipa, até que as mães se esgoelassem para que voltássemos às nossas casas, tomar banho, jantar e voltar para a rua, para brincarmos de Caiu-no-poço, pega-bandeira e esconde-esconde.

Nunca fui muito bom em soltar pipas. Por isso, quase sempre, arrumava as sacolinhas plásticas, as taliscas, comprava um rolo de linha, pedia ao Tinca que preparasse o brinquedo e, depois, admirado, punha-me a olhá-lo soltando a arara, fazendo-a subir até quase subir no céu e, depois, abruptamente, fazê-la cair vertiginosamente até quase tocar o chão, para, logo em seguida, subir de novo. E isso se repetia infinitamente, sem nunca perder o encanto.

Por aqueles lados já quase não existem ruas de terra, assim, os ridimunhos são raros e sem graça. Os meninos já não assobiam quando eles passam e, acredito eu, nenhum deles deve saber que ali dentro mora um saci. Já as pipas ainda sobrevivem; mas não possuem mais o encanto daqueles tempos. Definitivamente, já não existe mais aquele encanto de mês de agosto.

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