O
mês de agosto vem chegando, mas, o frio e o vento já estão por aqui faz algum
tempo. E, com eles, vieram também algumas lembranças. A primeira delas são os rodamoinhos,
para nós, crianças, ridimunhos, que começavam pelos lados da AABB e vinham
descendo até as casas mais baixas. As crianças assobiávamos à beça, só para
vê-los crescer, enquanto as mães ralhavam as nossas peraltices e ordenavam que fechássemos
todas as portas e janelas. Até que, numa tarde de sol e vento, um ridimunho
entrou na casa de uma vizinha, bagunçou as vasilhas e arrancou todas as telhas
do casebre.
Eu
já pensei em entrar com uma peneira dentro do ridimunho e pegar o saci que mora
lá dentro. Diziam que ele virava um capetinha que, se colocado dentro de uma
garrafa, realizaria todos os nossos desejos. Mas eu era medroso, e preferia
ficar de longe assobiando, vendo a poeira tomar os céus da cidade, quase
arrancando as roupas brancas no varal, naquelas tardes de vento, sol e muito
frio. Desse jeito: poeticamente paradoxal.
Depois
que os ridimunhos passavam, enquanto as mulheres, com cara de poucos amigos, retiravam
as roupas, agora sujas, do varal, subíamos para as terras do Zé Lopes, onde
soltávamos pipa, até que as mães se esgoelassem para que voltássemos às nossas
casas, tomar banho, jantar e voltar para a rua, para brincarmos de
Caiu-no-poço, pega-bandeira e esconde-esconde.
Nunca
fui muito bom em soltar pipas. Por isso, quase sempre, arrumava as sacolinhas
plásticas, as taliscas, comprava um rolo de linha, pedia ao Tinca que
preparasse o brinquedo e, depois, admirado, punha-me a olhá-lo soltando a
arara, fazendo-a subir até quase subir no céu e, depois, abruptamente, fazê-la
cair vertiginosamente até quase tocar o chão, para, logo em seguida, subir de
novo. E isso se repetia infinitamente, sem nunca perder o encanto.
Por aqueles lados já
quase não existem ruas de terra, assim, os ridimunhos são raros e sem graça. Os
meninos já não assobiam quando eles passam e, acredito eu, nenhum deles deve saber
que ali dentro mora um saci. Já as pipas ainda sobrevivem; mas não possuem mais
o encanto daqueles tempos. Definitivamente, já não existe mais aquele encanto
de mês de agosto.
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