terça-feira, 26 de agosto de 2014

A VELHA DATILÓGRAFA

Foi a Kedma O’liver quem acordou as lembranças mais recônditas, quando perguntou no Face sobre quem ainda possuía o diploma de datilógrafo; daí, como quase sempre acontece, algumas recordações aguçaram-me a mente improba. Não tem jeito, sou mesmo um nostálgico inveterado, que ainda persiste na ideia de que ontem era bem melhor que hoje.

Li, por um destes dias, talvez nalguma rede social, que, acho eu, os alemães estão recrutando datilógrafos, a fim de fazer – ou refazer – alguns arquivos, como tentativa de fuga das espionagens estrangeiras, sobretudo, norte-americana. Daí, ver reforçada a minha tese de que antes era bem melhor que hoje. Tudo bem que aumentaram as nossas facilidades, mas, convenhamos, já não temos a paz, o romantismo, a inocência de outros tempos.

Na casa dos meus pais ainda existe uma máquina de datilografia. Hoje anda encostada a um canto de barraco, no fundo do quintal, junto às tralhas que meu pai não usa mais, mas que também não joga fora. Somos todos assim, afinal, o que não presta devemos conservar por, pelo menos sete anos (Alguém, um dia, disse isso. E a moda pegou). Mas, a velha máquina  foi o começo da minha “era tecnológica”.

Foi no pesado instrumento, colocado sobre a velha mesa de madeira, que comecei a teclar, ainda lentamente, o ASDFG das teclas que já caíam os botões. Depois, um pouco mais gabaritado, escrevi os meus primeiros textos, ainda rudes e sem lógica; que se resumiam a alguns poeminhas adolescentes e uma história louca de um menino que saía pelo mundo em busca de aventuras e sofria todas as desventuras de uma vida madrasta.


Depois, com o advento do computador, ainda com o DOS, de tela preta e letras brancas, a velha máquina foi deixada de lado. Sendo que apenas uma das minhas irmãs talvez tenha adquirido o seu diploma, haja vista que, por algum parco espaço de tempo, chegara a lecionar o curso em uma minúscula escola da cidade. Ficaram-nos as lembranças do tec-tec descompassado da velha máquina que, instantaneamente, cuspia as folhas, já escritas, em preto e/ ou vermelho, de acordo com as nossas necessidades, até que a fita embolasse, acabasse ou simplesmente secasse, como sempre acontecia. Como ainda acontece nas nossas vidinhas desregradas.

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