Pipo
foi o primeiro a pular. Antes que os outros chegássemos à margem, ele veio
correndo e pulou dentro da água ainda fria daquela manhã. Depois foi o Ricardo
e, por último, o Luís, o Tromba e eu. O Tico não pulou; sentou-se ao pé da
velha árvore e ficou a nos olhar, com os olhos brilhando de inveja. Nós
sabíamos que ele tinha medo da água e, por isso, sempre o incitávamos a pular.
-
Pula, Tico!
-
Não. Não estou com vontade. A água tá fria. Mãe falou pra eu não entrar...
-
Você está é com medo! Nem sabe nadar e fica aí, fazendo de conta que nem se
importa... Pula, então, e nada!
- Eu
não quero. Se quisesse, entrava e saía lá do outro lado!
-
Você está é mangando. Nem sabe nadar; fica aí todo encaguetado. Se soubesse,
entrava!...
-
Hoje não. Não trouxe meu calção; mas, amanhã nós voltamos e vocês vão ver: vou
pular desse lado aqui e sair, num fôlego só, daquele lado de lá...
-
Duvido, Tico. Você nunca que vai ter coragem! – E assim começava toda a zoeira
do dia. Sempre íamos ao rio, e, sempre, era a mesma ladainha. Juro que tinha
pena do amigo, mas, era estranho: como podia uma pessoa ir todos os dias ao rio
e nunca ter aprendido nadar?!
E eu
já estava em casa quando o Pipo chegara com a notícia: O Tico havia se afogado
no rio, à tarde, pouco depois de termos ido embora. Disse que ele tinha ido a
casa, pegado o seu calção e, sem que a mãe o visse, retornado. Ainda chegara à
metade mais funda, mas, sentira alguma coisa, talvez um mal súbito, e não
conseguira completar a travessia.
Lembro
que a sua mãe chorava muito sobre o caixão. E ela dizia, entre prantos, que o
filho sabia nadar. Ele sabia nadar como um peixe; mas estava ainda muito fraco
dos pulmões; tudo por causa de uma bronquite asmática, que sempre o atacava.
E ela não conseguia
aceitar que aquilo acontecesse bem no dia do seu aniversário. Eu não sabia,
mas, o Tico era o mais novo de todos nós e, agora, também creio, era o mais
corajoso dentre nós. O mais jovem corajoso... E eu sentindo pena do amigo.
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