segunda-feira, 25 de agosto de 2014

TICO

Pipo foi o primeiro a pular. Antes que os outros chegássemos à margem, ele veio correndo e pulou dentro da água ainda fria daquela manhã. Depois foi o Ricardo e, por último, o Luís, o Tromba e eu. O Tico não pulou; sentou-se ao pé da velha árvore e ficou a nos olhar, com os olhos brilhando de inveja. Nós sabíamos que ele tinha medo da água e, por isso, sempre o incitávamos a pular.

- Pula, Tico!

- Não. Não estou com vontade. A água tá fria. Mãe falou pra eu não entrar...

- Você está é com medo! Nem sabe nadar e fica aí, fazendo de conta que nem se importa... Pula, então, e nada!

- Eu não quero. Se quisesse, entrava e saía lá do outro lado!

- Você está é mangando. Nem sabe nadar; fica aí todo encaguetado. Se soubesse, entrava!...

- Hoje não. Não trouxe meu calção; mas, amanhã nós voltamos e vocês vão ver: vou pular desse lado aqui e sair, num fôlego só, daquele lado de lá...

- Duvido, Tico. Você nunca que vai ter coragem! – E assim começava toda a zoeira do dia. Sempre íamos ao rio, e, sempre, era a mesma ladainha. Juro que tinha pena do amigo, mas, era estranho: como podia uma pessoa ir todos os dias ao rio e nunca ter aprendido nadar?!

E eu já estava em casa quando o Pipo chegara com a notícia: O Tico havia se afogado no rio, à tarde, pouco depois de termos ido embora. Disse que ele tinha ido a casa, pegado o seu calção e, sem que a mãe o visse, retornado. Ainda chegara à metade mais funda, mas, sentira alguma coisa, talvez um mal súbito, e não conseguira completar a travessia.

Lembro que a sua mãe chorava muito sobre o caixão. E ela dizia, entre prantos, que o filho sabia nadar. Ele sabia nadar como um peixe; mas estava ainda muito fraco dos pulmões; tudo por causa de uma bronquite asmática, que sempre o atacava.

E ela não conseguia aceitar que aquilo acontecesse bem no dia do seu aniversário. Eu não sabia, mas, o Tico era o mais novo de todos nós e, agora, também creio, era o mais corajoso dentre nós. O mais jovem corajoso... E eu sentindo pena do amigo.

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