Sempre descíamos os três para a escola. O Japão saía de sua casa às cinco e meia, passava na casa de Tinca e ambos passavam na minha casa. Íamos divagando sobre coisas amenas: futebol, meninas, carros... A aula começava às seis; por isso, caminhávamos sem pressa, como quem não quisesse chegar. Ás vezes passávamos na casa do Roni; mas isso não era ordinário, pois, quase sempre, descíamos pela Álvaro Augusto, passando pela venda de Zé Branquinho, até cortar o beco do Sesp e chegarmos ao Colégio.
Tinca não era muito apegado a horários, o que obrigava o Japão a esperá-lo por algum tempo, até que se aprontasse e descessem. Este, no entanto, sempre saía da sua casa pontualmente, sempre contando que algum imprevisto pudesse acontecer ou, o que não era difícil, que o Tinca ainda não estivesse pronto. Eu, como trabalhasse de manhãzinha na rádio, banhava-me às quatro e meia e, ordinariamente, tirava uma última soneca, sendo que quando ambos chegavam, encontravam-me tomando café com bolo de chocolate, que minha mãe sempre fazia.
Talvez fosse numa segunda-feira e o Tinca estivesse ainda engraxando sapatos, na praça ou na rodoviária, ou jogasse bola detrás do parque. Japão saíra de casa meio apressado, mas sempre com o cabelo bem penteado, liso e jogado para o lado direito, como que milimetricamente repartido. Com a pesada mochila ombrada, passara na casa de Tinca e, como ninguém o atendesse, desceu rapidamente a minha casa, e, escorado no balcão, com a cabeça jogada para dentro da casa, começou a gritar:
- Elismar, vamos embora. Já estamos atrasados!
É verdade que eu ainda cochilava àquela hora. Levantei-me meio cabreiro e fui atendê-lo.
- Passei na casa de Tinca, e ele não estava lá. Acho que já desceu. Saí de casa tarde; já são quase seis horas. Hoje vamos chegar atrasados.
Não pude deixar de rir do amigo variado. Ainda eram cinco horas da tarde,o sol estava alto, e ele estava meia-hora adiantado. Não deixei que retornasse à sua casa, fi-lo entrar e tomar um café com bolo. Tinca descera no horário e fomos à escola. Depois disso, algum tempo passado, Japão foi embora da cidade com o seu pai, única pessoa com quem morava, e nunca mais tive notícias do amigo.
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