Já
fazia cerca de um mês, senão mais, que Juca perambulava pelo sertão. Não fazia
a mínima ideia de onde estava, se seguia para a margem de algum rio ou se se
embrenhava mato adentro pelos sertões. Lembrava-se do ribeirão que viera seguindo
até certa parte do caminho; depois, enquanto mais se afastava dele, perdia,
rapidamente, as suas orientações. As árvores, a vegetação, a terra, tudo era
exatamente igual até ali: tudo era extremamente seco e sofrido. O sol, sempre
forte e perverso, parecia desnorteá-lo e a cada dia lhe parecia nascer de um
lado diferente. O homem já não era capaz de retornar à sua casa, assim como
também não tinha mais a capacidade de chegar a lugar algum por seus próprios
conhecimentos. Andava a esmo, observando os pássaros e o vento; às vezes, sentia
como se estivesse andando em círculos, num terrível labirinto. Daí, num de seus
tantos pensamentos já desencontrados, chegara à terrível conclusão de que o
sertão é um grande monstro pronto a engolir os seus filhos.
Juca
já não tinha forças suficientes para seguir. Já não andava mais duas ou três
léguas num único dia; deixava que o cavalo o levasse de acordo com a
conveniência do animal. Assim, arrastavam-se, ambos, pela estrada durante uma
parte do dia; depois, desfazia os arreios, soltava o bicho e deitava-se debaixo
de algum pequizeiro, a espera que alguma coragem lhe viesse ao corpo. De noite,
sentia febre, e o couro já não lhe era capaz de esquentar, assim como não o
fazia o fogo. Não tinha medo de morrer, e esse pensamento até apaziguava um
pouco a sua alma.
Certa
noite, enquanto queimava em febre à beira da fogueira, dentro de uma pequena
gruta, sentiu uma mão macia tocar-lhe a testa. Abriu os olhos com alguma
dificuldade, limpou o suor que lhe escorria pelo rosto e levantando um pouco as
vistas, viu que a mãe o afagava carinhosamente. Tentou se levantar, mas, ela
segurou-o com firmeza, fazendo com que permanecesse quieto em seu canto. Um
calor ardente lhe queimava o corpo.
-
A benção, mãe. – E sua voz lhe pareceu fraca, como a voz de quem já não tem
forças nem mesmo para respirar.
-
Deus te abençoa, meu filho.
A
voz da mãe ainda lhe era macia como das outras vezes que a ouvira. Mas agora
lhe parecia ainda mais branda, com um cheiro de rosas e tomada pela
tranquilidade que apenas as vozes maternas possuem. Não estava delirando; tinha
a certeza de que aquela era mesmo a sua mãe. Não em carne e osso, mas, talvez o
seu espírito, que viera lhe amparar num momento de fraqueza e desilusão.
-
Não tenho mais forças, mãe. Não consigo mais. Tenho que me entregar.
-
Você ainda não cumpriu a sua missão, meu filho. Aguenta, que eu estarei com
você.
Juca
compreendeu que sua mãe agora era uma parte de si. Fechou os olhos e chorou
copiosamente, deitado no seu colo. Depois adormecera, tranquilo e protegido,
como quando morava com a velha, à beira do ribeirão.
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