Depois
de muito tempo, resolvi sair de casa. Precisava espairecer, rever os amigos,
reencontrar a velha cidade. Desde que me mudei para cá, tenho me contentado em,
sentado na varanda do velho sobrado, observar a lagoa e as pessoas que se
aproveitam desse belo recanto. Não tenho mais a sensação de que o meu amigo
Arnaldo esteja por perto; também não tenho mais ido por aquelas bandas. Prefiro
ficar longe de qualquer aborrecimento.
Tenho
notado que a minha esposa do Arnaldo tem sentido saudades da velha casa, mas
acredito que ela entenda os contratempos. As sensações haviam se tornado frequentes;
também tinham as sombras que se mexiam pelos matos, até os tiros que não se
sabia de onde vinham. Talvez nem fosse o meu falecido amigo, mas, por via das
dúvidas, o melhor era caçar um sossego aparente.
Não
é que eu tenha medos do amigo. Defunto ou não, o Arnaldo sempre fora meu companheiro.
E, deveras, ainda nos vejo assentados na varanda, tomando café com bolo de fubá
e pão de queijo, iguarias que a minha sua esposa continua a fazer, ainda com os
apreços de outrora. Fato é que tenho me precavido, e, além das poucas saídas de
casa, tenho andado armado e com um crucifixo a tiracolo.
A
cavalo, segui margeando a lagoa, bem junto da calçada azulada. Ia admirando as
ondas formadas pelo vento matinal, enquanto alguns quero-queros voavam de um
lado para outro, numa felicidade imensurável. Ao longe, eu via as bonitas casas
que se queimavam ao sol, recebendo a brisa úmida das águas do Sanharó. O meu
sobrado ficava a um canto mais afastado e, da outra ponta da lagoa, apenas via
a varanda, com o meu velho banco de madeiras.
Dobrei
a esquina à esquerda, sempre olhando de um lado a outro, admirando a paisagem,
precavendo-me de alguma emboscada. De frente ao hotel, pus reparo na sua coloração
alaranjada e recordei-me de que o Arnaldo dissera-me alguma vez que, quando construísse
a sua nova casa, num sitiozinho que ainda haveria de comprar, ela haveria de
ser rústica, como são as casas do sertanejo, assim como haveria de pintá-la de
uma cor abóbora, pois queria uma casa viva, cheia de viço.
As
lembranças do meu amigo encheram-me o peito e senti a minha alma doer.
Lembrei-me da minha sua esposa, que estava sozinha em casa. Talvez estivesse
deitada, relembrando os momentos com o Arnaldo, sentindo saudades do falecido;
quiçá, estivesse na cozinha, preparando já o almoço deste sábado, talvez um
arroz branco, com feijão de caldo bem temperado e uma travessa de língua
assada. Na dúvida, o melhor seria voltar para casa, rapidamente.
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