Sentado debaixo da
mangueira, o menino observa os outros meninos brincando de bola. Sempre gostara
de futebol, mas não sabia jogar. Ainda tentara, mas, era sempre a mesma coisa:
se mirava para um lado, a bola ia para outro; se ficava de goleiro, as bolas
passavam sem qualquer piedade. Já fora goleiro, zagueiro, lateral, meia,
atacante. Depois, resolveu não ser mais nada; por isso, preferiu sentar-se à
beira do campo e ver a olhar a bola rolar, a poeira subir, a vida passar.
De fato, é um bom observador:
diferencia o 4-4-2, 4-2-3-1, 4-1-4-1 e todas as suas variações; acha que o
goleiro tem a obrigação de saber sair jogando com a bola nos pés e que o ala
não deve trabalhar apenas como secretário de lateral. Mas, nada disso serve
para os jogos do campinho. Ali, são todos um bando de índio, com a bola
correndo de um lado para outro, e os meninos numa carreira desabalada.
Às vezes se esquece da bola
e fica a observar todos aqueles garotos, pensando no que será o futuro de cada
um. Certamente, dali não haverá de sair qualquer futebolista, nem algum técnico
de futebol. Alguns daqueles não estudam; ficam na rua o dia todo, correndo para
cima e para baixo, soltando pipa, jogando bolinhas de gude. Ainda existem
aqueles que descem para a cidade. Ficam por lá boa parte do dia, olhando,
pedindo, roubando.
Talvez saia um ou outro
professor, algum policial, quiçá, algum dono de mercearia. Por enquanto,
continuam correndo atrás da bola, querendo ser Cristiano, Messi, Neymar. Ele
não quer mais ser jogador de futebol; prefere observar o jogo, enquanto cria
histórias, enquanto sonha em ser um sujeito de primeira.
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